A cada resultado do Pisa, desde 2000, leio com cautela os dados, buscando fugir da mera constatação de que não estamos bem. Sim, tivemos, nesta edição, melhoras na pontuação nas três áreas avaliadas, mas continuamos mal, e vale a pena entender as razões.
É verdade que o Brasil só universalizou o acesso ao fundamental entre o final do século 20 e o início do 21. Praticamente todos os países e economias nas primeiras posições do Pisa alcançaram a universalização bem antes de nós. Mas isso não é razão suficiente para o nosso fraco desempenho.
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Tivemos, isso sim, grandes dificuldades para construir uma escola que ensine a todos. Hoje, com jovens de meios vulneráveis finalmente na escola, as políticas docentes teriam que se ajustar a isso, seja atraindo mais talento à profissão para um desempenho bem mais desafiador, seja formando o professor para seu novo papel, o de assegurador de aprendizagem para todos.
E é justamente em políticas docentes que estamos falhando. Não há nenhum elemento com maior influência na qualidade da educação que um bom professor, mostram as pesquisas recentes. É preciso melhorar os salários, evitar contratos fragmentados de 16 ou 20 horas, que obrigam os mestres a percorrer várias escolas para cumprir uma jornada que os remunere, fornecer-lhes um currículo que estabeleça os direitos de aprendizagem dos alunos e mudar a formação que eles recebem no ensino superior, criando maior diálogo entre teoria e prática profissional. Afinal, isso é o que fazem os sistemas com bons resultados no Pisa.
A boa notícia é que já começamos, mesmo que tardiamente, a fazer algumas dessas coisas. Finalmente estamos implantando a Base Nacional Comum Curricular, estabelecida na Constituição de 1988, mas homologada apenas no final de 2018. Todos os 26 estados e o Distrito Federal já elaboraram seus currículo estaduais, em parceria com seus municípios, para a educação infantil e o fundamental. Em 2020, eles serão implantados nas escolas. Além disso, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes novas de formação docente, que, tão logo sancionadas pelo MEC, mudarão os currículos das licenciaturas e dos cursos pedagogia.
Falta agora seguir o exemplo de Pernambuco, que está contratando seus professores de ensino médio para 40 horas, com dedicação exclusiva e concentrando suas aulas numa única escola. Ainda precisamos melhorar os salários, para atrair e reter os melhores alunos do ensino médio para a mais interessante e desafiadora das profissões –a de professor.
Sem isso, não há melhoras que não sejam milimétricas e que possam se tornar, de fato, sustentáveis.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 6/12/2019