O Brasil vai que vai, meio que sem rumo, esperando para ver no que dá a reforma da previdência social. Por conta disso, as previsões para o crescimento do PIB encolhem e já tem gente falado que dificilmente chegaremos a mais do que 1%.
É um número muito baixo, mas a coisa toda muda quando o cenário leva em conta a aprovação de uma robusta reforma da previdência social. Aí os números crescem, brilham, e o país entra na rota do desenvolvimento, impulsionado pela certeza da possibilidade do governo resgatar sua capacidade de investimento, hoje ameaçada pelos custos públicos de todas as naturezas, especialmente o déficit da previdência.
O fato concreto é que, conversando com vários executivos de seguradoras, praticamente todos são unânimes em dizer que o mercado ainda não decolou. Da mesma forma, todos são unânimes em dizer que isso é consequência do país ainda não ter decolado. De estarmos vivendo mais na esperança de que vai dar certo do que iniciando as ações destinadas a fazer dar certo.
Há algum movimento nos seguros de veículos novos, mas nada capaz de mudar significativamente o patamar atual da atividade. Praticamente todos os demais ramos estão estagnados, não havendo crescimento importante em nenhum deles, incluídos os planos de previdência complementar, os seguros prestamistas e até mesmo os títulos de capitalização.
A sensação que se tem é de que, apesar do carnaval já ter passado, o ano ainda não começou. E a grande dúvida é se ele vai começar agora ou só depois da reforma da previdência, o que seria um desastre porque, na melhor das hipóteses, ela só estará aprovada no final do primeiro semestre.
Não é razoável viver uma situação como esta, mas a realidade se impõe e os efeitos da crise ainda estão muito visíveis para as empresas correrem o risco de investir sem saber com um mínimo de certeza em que cenário estarão operando dentro de alguns meses.
Com uma reforma da previdência minimamente inteligente passando, o Brasil se torna um país interessante para investimentos de todos os tipos, notadamente os de longo prazo, indispensáveis para as obras de infraestrutura necessárias para o nosso desenvolvimento. Mas se a reforma não passa, ou passa de forma muito tímida, o país se torna um lugar hostil para receber investimentos internacionais e nós simplesmente não temos poupança suficiente para o pagar o mínimo para custear nosso crescimento.
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O setor de seguros é um setor de suporte, não é um setor de linha de frente. Assim, sem que a economia reaja, não tem como as seguradoras crescerem significativamente. Podem até melhorar seus resultados, mas não aumentarão o faturamento. Isto só se dará se a economia como um todo deslanchar. Se houver o aquecimento de todos os setores, indústria, comércio e serviços.
Será esta demanda nova que dará o empurrão para a atividade voltar a apresentar crescimento de sua participação no PIB. Sem ela, no máximo, o setor manterá os números atuais, mas mesmo estes não são uma certeza, já que o esfriamento da economia terá como consequência uma provável volta a um período de recessão.
2019 está fechado. Com crescimento maior ou menor, o ano terá um resultado positivo e isso será bom para todos, inclusive para o setor de seguros. A questão é como fica o depois de 2019.
De um lado, podemos ter um cenário altamente positivo com todas as possibilidades de crescimento abertas, e, de outro, podemos ter o país ameaçado de voltar a cair na recessão, com tudo de muito ruim que irá advir.
De acordo com os executivos com quem conversei, enquanto esta incerteza não estiver melhor mapeada, é praticamente impossível se esperar grandes movimentos, seja de seguradoras nacionais, seja de grupos internacionais. Ninguém vai pagar para ver sem ter uma noção do tamanho da mão do adversário. Neste momento, as cartas ainda estão sendo dadas. Então, como dizia Orestes Quércia: cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 20/03/2019