O Brasil não consegue crescer como a média dos emergentes. Mas, nas últimas décadas até 2011, o País cresceu pelo menos em linha com o mundo. Para muitos, não há mérito nisso, como se os canais ou engates externos fossem suficientes por si só para a locomotiva mundial puxar o vagão Brasil.
Não é bem assim. A economia brasileira é muito fechada ao comércio mundial, sendo o crescimento puxado pela demanda interna. E a entrada de capital estrangeiro, ainda que muito dependente das condições externas, como a liquidez mundial, tem sido mais consequência do que causa do crescimento.
Para acompanhar o mundo é necessário fazer algumas lições de casa. FHC e Lula conseguiram em boa medida. Com Dilma, saímos dos trilhos e o País descolou do mundo, ou mesmo da América Latina.
Há um debate sobre quem avançou mais. Parece justo afirmar que foi FHC, já que o Brasil acompanhou mais a dinâmica dos emergentes durante seu governo do que na gestão Lula. Muitas oportunidades foram perdidas, particularmente após a crise do mensalão. Pior, Lula, enfraquecido, precisou ceder à equivocada agenda petista, liderada por Guido Mantega. A propósito, este é o risco que corre Fernando Haddad, se eleito.
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O esforço necessário para crescer em linha com o mundo precisará ser ainda maior daqui para frente. O bônus demográfico acaba este ano, segundo o IBGE. O número de pessoas em idade ativa (entre 15 e 60 anos) terá aumento inferior ao da população, que terá participação crescente de idosos. Como consequência, o crescimento da renda per capita dependerá de uma maior produtividade da mão de obra. Teremos de fazer mais, com o mesmo número de trabalhadores, nos próximos anos.
Ajudaria se o Brasil atraísse mão de obra estrangeira qualificada. No quadro atual, mais perdemos trabalhadores qualificados do que atraímos. O Brasil precisará primeiro ter algum sucesso para depois atrair talentos, apesar de a lei de imigração de 2017 ser facilitadora.
A produtividade do trabalho é baixa e cresce muito pouco. Por isso, o Brasil precisa avançar em muitas agendas.
O mais urgente é garantir a estabilidade macroeconômica (sendo a reforma da Previdência a espinha dorsal do ajuste fiscal e este da estabilidade), melhorar o ambiente de negócios (reforma tributária é prioritária) e elevar o capital humano (com avanços mais expressivos no ensino médio e técnico, onde estamos mais atrasados). Precisamos, paulatinamente, avançar na agenda de abertura da economia e de revisão de políticas públicas que protegem as empresas ineficientes (como o Simples, que desestimula o crescimento das empresas pequenas).
A agenda de reformas e de correções da política econômica de Dilma, que fez a produtividade cair, retoma aos poucos. É preciso acelerá-la, e bastante, para voltarmos a acompanhar o mundo. A alternativa será um país que cresce pouco e fica mais vulnerável a turbulências.
Para se ter uma ideia de números, segundo estimativas de Samuel Pessôa, entre 2002-10, quando o PIB cresceu em média 4% ao ano, a produtividade do trabalho contribuiu com 2,4 pontos porcentuais, valor recorde desde a redemocratização. O 1,6 ponto porcentual restante decorre do aumento do fator trabalho. Logo não poderemos mais contar com ele, pelo fim do bônus demográfico e quando a taxa de desemprego voltar ao seu patamar natural (possivelmente em torno de 6% na média anual), deixando de haver mão de obra ociosa.
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Não há muitas informações sobre os programas dos candidatos. Por ora, há apenas princípios gerais, alguns equivocados, como o Estado grande de Ciro Gomes e os atalhos de Fernando Haddad.
Será importante analisar a qualidade da agenda e a capacidade de entrega dos candidatos. Precisamos avaliar quem terá maior capacidade de ouvir a academia e especialistas dentro e fora do Brasil, e de dialogar com o setor privado. Também precisamos avaliar a habilidade de articulação no Congresso.
É muita gente para conversar. E nada ajuda falar alto e pisar duro.
Fonte: “Estadão”, 16/08/2018