O desafio daqueles que querem dar uma consciência às máquinas para que elas possam atender os requisitos necessários para serem chamadas de inteligentes e criar (nas máquinas) a capacidade de identificação daquilo que existe a sua volta, ao ponto de discriminar qual a natureza daquilo que é percebido, atribuindo valor a cada entidade percebida considerando os padrões de valor relacionados a partir do valor mais alto para o homem que é a sua própria vida.
Dar-lhes atributos cognitivos que atendam parâmetros metafísicos e epistemológicos não será suficiente se não forem cumpridos também protocolos que satisfaçam os aspectos éticos ligados às ações autônomas desses equipamentos pois, para que haja o exercício da liberdade de agir é preciso haver o exercício da liberdade de escolher e são os padrões de moralidade e, consequentemente, de valor que possibilitam que uma máquina não se volte contra o mais alto padrão de valor para o homem, sua própria vida.
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Máquinas, por não serem sujeitos ou indivíduos, mas sim objetos ou propriedades, não podem estar acima, em primeiro lugar, dos seus atuais proprietários e, em segundo lugar, daqueles que já o foram ou ainda poderão sê-lo.
Máquinas não podem ser programadas para se verem como tendo valor superior aos dos seus proprietários presentes, passados ou, potencialmente, futuros, porque máquinas não possuem autoconsciência. A sua consciência é dada pelo homem e não pela sua própria natureza.
Para quem acredita que a consciência humana é dada aos homens pela sua própria natureza e não por concessão divina, faz sentido um homem senhor de si. Para quem acredita no oposto, que a consciência humana é concessão divina, o homem ser servo de Deus faz todo o sentido.
É por isso que eu acredito que o homem não é uma máquina feita para servir a alguém, a não ser a si próprio, por uma questão existencial.
O homem como indivíduo é o seu próprio mestre e não lhe cabe servir a outrem, seja este um ser divino ou um ser de carne e osso.
O homem é um fim em si mesmo por princípio e qualquer indivíduo que queira criar qualquer máquina deve ter isso como premissa e a máquina deve, obrigatória e incondicionalmente, reconhecer isso como parâmetro intransponível.
O homem é Deus para a máquina porque a máquina não tem capacidade própria de discriminar entre o que é verdadeiro e falso, certo e errado, com uma consciência própria que, axiomaticamente, faz parte da sua natureza.
Fonte: “Instituto Liberal”, 16/07/2018