As discussões que estão sendo travadas no Congresso Nacional sobre a privatização da Eletrobrás mostram como a grande maioria dos nossos políticos não entendeu ou não quer entender a necessidade de modernizar o País, implantando um novo modelo econômico com o Estado regulador e fiscalizador.
São inacreditáveis os argumentos levantados por aqueles que são contra a privatização. Vamos nos concentrar em dois dos mais bizarros. O primeiro é o de que a Eletrobrás pertence ao povo brasileiro e o segundo, de que é uma empresa estratégica e por isso tem de ser estatal.
A Lava Jato mostrou de forma muita clara que os verdadeiros proprietários da Eletrobrás sempre foram os políticos e os sindicatos que ao longo dos anos vêm se beneficiando da empresa para terem todos os tipos de privilégios em detrimento de toda a sociedade.
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Cargos em estatais dão poder político, econômico, status e voto aos políticos. A questão dos empregos é tema constantemente levantado pelos sindicatos e outra falácia que precisa ser desmistificada.
Para tanto, basta olhar a efetividade da privatização em exemplos nacionais como o setor de telecomunicações e a Vale. Um dos benefícios comum a esses dois casos é o aumento do nível de empregos, fato que a Eletrobrás privada poderá vislumbrar com a retomada de investimentos.
A Vale, atualmente, emprega cerca de 110 mil profissionais no Brasil, nove vezes mais do que quando a empresa era estatal. As empresas do setor de telecomunicação, dez anos depois de privatizadas, geravam 352 mil postos de trabalho, um aumento de 189% sobre o verificado no período anterior.
Outro ponto é a questão dos fundos de pensão das estatais. Hoje, depois das barbeiragens cometidas nas gestões estatais desses fundos, os trabalhadores da ativa e os aposentados estão sendo descontados nos seus contra-cheques para salvar os fundos. Exemplo disso é o Fundo Petros dos funcionários da Petrobrás. Enquanto isso, o fundo da Vale privado paga dividendos e prêmios.
Ao povo brasileiro tem restado pagar a conta dessa ineficiência e corrupção por meio de impostos muito elevados, o que no final do dia se transforma em tarifas elétricas das mais altas do mundo.
O segundo argumento, de ser estratégico ter uma empresa estatal no setor de energia, mostra um total desconhecimento das mudanças tecnológicas mundo afora. Em plena revolução da digitalização, da geração distribuída por meio do gás natural e das fontes renováveis como a eólica e a solar, do avanço do carro elétrico, aqui ainda estamos no século passado reféns do debate de se a Eletrobrás deve ser estatal ou privada.
É incrível e ao mesmo tempo inacreditável no Brasil não se entender que o papel do Estado numa economia moderna é o de ser regulador e fiscalizador, e não investidor.
Não incentivar a eficiência e o avanço tecnológico num setor como o da energia elétrica é um crime contra as gerações futuras de brasileiros. Não podemos abrir mão dos capitais privados que estão interessados em investir no Brasil. Depois de anos o Brasil voltou ao mercado internacional. Todos acompanharam nas últimas semanas a disputa acirrada entre empresas brasileira, italiana e espanhola para comprar a Eletropaulo.
Diante desse cenário, é uma pena vermos formadores de opinião e analistas do setor se colocando contra a privatização com argumentos como: esse governo não tem legitimidade, estão entregando a empresa de graça, vai aumentar a tarifa ou sou a favor, mas o modelo não é o correto. Essa é uma conversa mais sutil, mas, no fundo, são argumentos mais sofisticados usados para adiar ou mesmo evitar a privatização e a modernização do País.
Toda essa discussão baseada no atraso, no populismo, na ideologia, no desrespeito aos números, no corporativismo me lembra uma frase do Paulo Francis de que o Brasil optou por ser pobre. Pobre Brasil.
Fonte: “Estadão”, 05/05/2018