Ao escrever, em 1748, letras clássicas do pensamento político ainda vigente, Montesquieu projetou que uma forte e consistente divisão das instituições políticas seria a melhor forma contenção de toda e qualquer forma de abuso de poder. O festejado princípio da separação de poderes tem, em sua essência, uma tentativa de imposição de limites recíprocos e cambiantes entre o Legislativo, Executivo e Judiciário, criando um dinamismo institucional harmônico e virtuoso em busca daquilo que veio a se chamar de bem comum.
Posteriormente, em especial com o desenvolvimento do constitucionalismo da Filadélfia, o pensamento político americano, sempre privilegiando uma teoria pragmática da vida vivida, vislumbrou que o “enforcement” da lei precisava de forças público-civis (tais como os partidos políticos) para a garantia do funcionamento otimizado da estrutura institucional traçada na Constituição. Durante anos, o modelo funcionou com a maestria do possível, levando a civilização ocidental a progressos notáveis.
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Ao romper a fronteira tecnológica, a humanidade se encontra no limiar de um novo mundo. Logicamente, a novidade traz consigo a necessidade objetiva de novos conceitos e novas formas de pensar a realidade. Como bem apontou Ortega y Gasset, “a ciência é a interpretação dos fatos”, sendo que, dos fatos, nós extraímos o “problema da realidade”. E a realidade está a mostrar que muitos dos tradicionais mecanismos da política não servem mais à democracia do século XXI.
Sim, as grandes transformações históricas foram impulsionadas por guerras ou graves rupturas político-institucionais. Não há dúvidas de que estamos a viver um tempo de aberta e profunda transição civilizatória. As velhas soluções não respondem às perguntas do amanhã. De forma geral, as nações que conseguirem readequar celeremente as puídas estruturas do passado sairão na frente, tendo uma importante posição de vantagem no remodelado tabuleiro geopolítico mundial. O Brasil não está condenado eternamente à corrupção, ao atraso e ao subdesenvolvimento. A questão é: quem serão as lideranças autênticas que nos levarão a um futuro promissor?
Fonte: “GaúchaZH”, 07/05/2018