O que está acontecendo na Argentina é mais um exemplo de como as fronteiras entre fatores externos e a política econômica interna dos países desapareceram. O aumento da taxa de juros e a valorização do dólar nos Estados Unidos tiveram impacto nos mercados emergentes, com a desvalorização das moedas desses países.
A combinação desses fatores com decisões políticas como a criação de imposto sobre receitas financeiras e a defesa do peso, além de um crescente déficit fiscal que chegou a 3,9% do Produto Interno Bruto (PIB), praticamente o dobro do existente no Brasil, geraram desconfiança com a atuação do governo e do Banco Central. Como resultado, caíram os investimentos, o risco país aumentou, a desvalorização do dólar se acelerou, a taxa de juros foi seguidamente elevada (ate 40%) e houve perda sensível das reservas, forçando o presidente Maurício Macri a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O pedido de US$ 30 bilhões ao FMI para fazer frente ao risco cambial e aos crescentes problemas econômicos que desestabilizaram a economia desde o início do ano foi igual ao que foi solicitado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso pouco antes das eleições de 2002, e que ajudou a superar a crise daquele momento.
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Desde o início do ano, o presidente argentino estava encontrando dificuldade para levar seu plano de reformas estruturais, como a reforma trabalhista e a abertura da economia.
O que ocorre no nosso vizinho interrompe uma tendência de avanço paralelo com o Brasil na política econômica, com reformas modernizantes, com estabilidade, com a inserção no mercado global pela negociação de acordos comerciais, como ocorre com a União Europeia, e com a redução de medidas protecionistas que muito prejudicaram a expansão do intercâmbio bilateral.
Qual o impacto disso sobre o Brasil? De imediato, as exportações de produtos industrializados, em especial no setor automobilístico, deverão ficar afetadas pela redução do crescimento da economia argentina.
É de se esperar que Buenos Aires não volte a impor medidas protecionistas, acarretando um novo retrocesso depois de significativos avanços na redução e eliminação das restrições comerciais, como ocorreu no governo de Cristina Kirchner.
Além disso, não parece que haja um risco maior de contaminação que venha a afetar a economia brasileira, hoje com as contas externas, a política fiscal e a inflação em situação muito mais favorável.
Fonte: “Estadão”, 09/05/2018