O preço externo do petróleo dobrou desde que Temer assumiu e a taxa de câmbio está aumentando. Para setores como o de serviços de transporte, intensivo em petróleo, é questão de vida ou morte trabalhar com projeções realistas desse insumo fundamental, especialmente em momentos, como o atual, quando ainda não nos livramos da mais longa e mais profunda recessão de nossa história e a taxa de câmbio pode subir mais. É natural, assim, que a grita desse setor seja imensa, bem maior do que nos demais países, conforme se pode observar pelo noticiário internacional. Fala-se, inclusive, que o setor tem capacidade ociosa acima do normal por ter se expandido em resposta a políticas erradas de fomento um pouco antes da debacle do governo Dilma.
Só que as cotações externas são determinadas totalmente fora de nosso controle, restando apenas alinhar os preços internos à tendência de médio prazo dos preços internacionais, a fim de construir os sinais corretos do “custo de oportunidade” dessa commodity para o País, guiando os agentes internos nas suas decisões de consumo e produção. Nessa linha, talvez coubesse algum aperfeiçoamento na política de preços seguida hoje pela Petrobrás, que, além do mais, teve o grande desafio de corrigir as distorções herdadas da gestão anterior. Mas sua ação está basicamente certa.
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Nesse sentido, suavizar a curva dos reajustes pode ser a mexida correta, mas não deve ser pensado como algo que vai salvar o setor provavelmente mais atingido pela recente escalada dos preços externos do petróleo. Ali, ao que tudo indica o problema é bem mais profundo. Qualquer tentativa que o governo faça de transferir subsídios para sua salvação vai dar com os burros n’água, criando-se apenas um saco sem fundo. Além do mais, diante da virtual falência do setor público, isso vai frontalmente na direção oposta do que precisa ser feito.
Precisamos equacionar o problema fiscal na linha que venho sugerindo, e nos livrar rapidamente da recessão. Só assim setores se salvam.
Fonte: “Estadão”, 29/05/2018