Nem o MEC nem a imprensa destacaram os resultados da rede municipal de Teresina na Prova Brasil de 2017. O município saiu-se em primeiro lugar dentre as capitais no 5º e 9º ano do Ensino Fundamental nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa.
Em Matemática, no 5º ano, a rede municipal de Teresina evoluiu do 10º lugar em 2013 para o 3º lugar em 2015 e para o 1º lugar em 2017 dentre as capitais brasileiras. No 9º ano, na mesma disciplina, a cidade saiu do 7º lugar em 2013 para o 5º em 2015 e para o 1º em 2017. Já em Língua Portuguesa, no 5º ano, a evolução no ranking das capitais foi do 11º lugar em 2013 para o 4º em 2015 e o 1º em 2017. No 9º ano, na mesma disciplina, a cidade saltou do 6º lugar em 2013 para o 4º em 2015 e o 1º em 2017.
O avanço no 9º ano parece ser independente do avanço no 5º ano, pois os alunos que concluíram o 5º ano em 2017 ainda não estavam num patamar suficientemente elevado para explicar o avanço no 9º ano. Embora o salto agora tenha sido maior, ele se apoia em saltos consistentes nas duas últimas rodadas.
Para apreciar devidamente esse caso, é preciso levar em consideração algumas características do município. Trata-se de uma capital com mais de 800 mil habitantes e com uma das maiores proporções de alunos na rede pública municipal (64% nas séries iniciais e 45% nas séries finais do Ensino Fundamental).
Também é o município com menor custo por aluno dentre as capitais. Teresina gasta 6.600 reais por aluno por ano, e a média das capitais é de 9.934 reais por aluno por ano. Teresina é o município que consegue a média mais elevada nas provas, quando comparado com redes municipais de ensino de seu porte. Já em termos de PIB per capita, o Piauí situa-se entre os três últimos colocados. Esses fatores ilustram que os desafios, em Teresina, são maiores do que os enfrentados por municípios de porte equivalente em população e número de matrículas na rede municipal.
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O resultado de Teresina é robusto, decorre de um processo de reforma que vem sendo desenvolvido há algum tempo, mas que vem se tornando mais consistente nos últimos anos.
As intervenções ali realizadas têm orientação e características semelhantes ao que se fez em Sobral (CE) – tanto nas séries iniciais quanto nas séries finais. Elas consistem de uma mistura de estratégias pedagógicas baseadas em evidências e de gestão focada na implementação dessas estratégias.
A implementação ainda não atingiu tanta consistência e rigor quanto em Sobral. A disparidade entre o resultado das escolas ainda é elevada. Mas, diferentemente do caso de Sobral, o sucesso de Teresina demonstra que a adoção de estratégias adequadas pode começar a resultar em avanços significativos num espaço de quatro a seis anos. Isso é inteiramente consistente com a experiência internacional.
Ou seja, hoje já dispomos de conhecimentos e experiências para dar saltos de qualidade significativos em espaços de tempo relativamente curtos. É uma esperança para quem quiser avançar. E constitui um alerta para quem tenta reinventar a roda.
Fonte: “Veja”, 11/09/2018