Paulo Veras fala sobre os desafios de criar sua startup, que recebeu este ano US$ 200 milhões em investimento estrangeiro
A startup brasileira de transporte urbano 99 deu o que falar no primeiro semestre ao levantar um valor recorde de investimento para uma empresa novata do país. Foi um total de US$ 200 milhões. Metade desse dinheiro veio da japonesa SoftBank e a outra parte da chinesa Didi Chuxing (o Uber da China). Esse cenário dos sonhos para qualquer empreendedor esconde o longo caminho até a 99 chegar ao pote de ouro dos investimentos estrangeiros.
Nesta quinta-feira (05/10), Paulo Veras, cofundador da 99, falou sobre os desafios de captar dinheiro, durante a 4ª Conferência de Venture Capital Brasileira, realizada pela ABVCAP em parceria com a ApexBrasil.
Quando fundou a empresa há cinco anos, o modelo não era novo — tinha surgido na Alemanha. O maior acesso à tecnologia, diz Veras, permitiu a disrupção de um setor que era ineficiente. Então, decidiu ser rápido para trazer aquele modelo ao Brasil.
Não era a primeira vez que ele se aventurava no empreendedorismo. Já era a sexta vez que ele fundava um negócio no meio digital. O quinto havia sido um site de compras coletivas chamado “Imperdível”. Veras reconhece hoje que a empresa não fez jus ao nome. O mercado foi rapidamente tomado por centenas de competidores.
Por causa da experiência anterior, ele considerou em seu projeto uma forte concorrência ao elaborar a então “99Táxis”. “Como conseguimos fazer um negócio diferenciado sabendo que teria muita concorrência?”, questionou-se. “O que fez a diferença foi pensar com a cabeça de quem teria dinheiro.” No caso, nem ele e nem os sócios tinham. A empresa ficou um ano só com o dinheiro dos fundadores, então a Easy Taxi já contava com investimento.
“Atrair capital no Brasil ainda é uma tarefa hercúlea”, afirmou o empreendedor. Segundo ele, a 99 teve de bater em muitas portas sobretudo na etapa inicial. “Não teríamos chegado onde chegamos hoje sem venture capital, por outro lado se tivesse acesso a mais capital não tenho dúvida de que estaríamos muito maiores.”
Mesmo quando o dinheiro começou a chegar, foi preciso “construir uma tese de monetização”. De acordo com ele, correr para ter retorno financeiro pode ser bastante prejudicial: “A pressa pode atrapalhar o negócio”. Antes de conseguir dinheiro, focaram então em fidelizar o motorista, dando mais remuneração que a concorrência. Veras diz que o empreendedor tem que conhecer os “drivers” que podem levar a sua monetização, mesmo que seja daqui três anos.
Ele apontou como uma vantagem terem mirado só o país. “O Brasil tem um mercado interno grande para muita coisa. Então, desde o começo, resolvemos focar aqui. Acho que os nossos competidores nunca jogaram War [jogo de tabuleiro de estratégia]. Pior coisa é você colocar um exército em 40 países, todos vão ganhar de você”, disse Veras.
Nos últimos anos, deparam-se com um novo concorrente: o Uber. Era hora de buscar investimentos mais altos para entrar no mercado de carros comuns. Bateram em mais portas. Desta vez, lá fora. Em maio, anunciaram os R$ 100 milhões do SoftBank, elevando a R$ 200 milhões o total de recursos captados desde o início do ano.
Veras também mencionou uma reclamação frequente de parte dos empreendedores: a de que o fundo que investe na 99 não a ajuda a conseguir mais capital. Para ele, essa tarefa é dos fundadores da empresa. “A responsabilidade de levantar capital para a empresa é o empreendedor, não do fundo”, defendeu.
Fonte: “Época Negócios”
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