Os índices acionários de Nova York fecharam uma onda de vendas (“sell-off”) nesta quinta-feira (3), após um longo rali em Wall Street que levou o Nasdaq e o S&P 500 a anotar sucessivos recordes nas últimas semanas.
O Nasdaq liderou as perdas hoje, fechando em queda de 4,96%, a 11.458,10 pontos, e perdendo quase 600 pontos na sessão. O S&P 500 recuou 3,51%, a 3.455,06 pontos, enquanto o Dow Jones caiu 2,78%, a 28.292,73 pontos.
O VIX, conhecido como “índice do medo”, saltou 25,78% no fechamento, a 33,42 pontos, depois de ter ficado esquecido nos últimos meses, enquanto Wall Street registrava seguidos recordes no Nasdaq e também no S&P 500.
Não há um catalisador específico para o sell-off nas ações desta quinta, mas alguns elementos ajudam a explicar o mau humor que impediu a continuidade de um movimento de rotação que vinha se ensaiado desde quarta (2), em direção às chamadas ações cíclicas, que são aquelas mais atreladas ao crescimento econômico.
“Wall Street ficou nervosa após informações pessimistas no relatório de pedidos de seguro-desemprego e depois do maior déficit comercial [dos EUA] em 12 anos, sugerindo que a guerra comercial EUA-China está prestes a se intensificar. Esta semana houve rotação de ações de tecnologia para as cíclicas, mas isso não vai continuar se a recuperação do mercado de trabalho travar”, disse, em entrevista ao Valor, o analista da corretora Oanda em Nova York, Edward Moya.
Apesar da queda em 130 mil no número de americanos que solicitaram seguro-desemprego na semana passada – foram 881 mil pedidos contra 1,069 milhão na semana anterior –, Moya destaca que o total de pessoas que reivindicam benefícios em todos os programas governamentais aumentou em mais de 2 milhões para 29,2 milhões, sinalizando que os benefícios concedidos pelo governo estão exercendo um papel importante para sustentar a economia fortemente impactada pela pandemia de covid-19.
Mas se não há clareza sobre o catalisador para a movimentação, o setor mais prejudicado foi claramente o de tecnologia, que fechou em queda de 5,83%, na ponta negativa do S&P 500. Nenhum outro setor teve uma queda tão expressiva na sessão de hoje, com as ações de consumo discricionário (-3,56%) e de serviços de comunicação (-3,35%) tendo as piores performances após o setor de tecnologia.
Depois de acumular ganhos de quase 40% do dia 30 de julho até o fechamento da última segunda-feira (31), a ação da Apple caiu pelo segundo dia consecutivo, fechando em queda de 8,01%. O tombo é atribuído, em grande parte, a um movimento de realização de lucros, após um rali muito acentuado da ação.
Com a disparada no preço, a companhia fechou a sessão de segunda-feira representando 7,5% do índice S&P 500, ou US$ 2,3 trilhões. O valor supera todo o setor de consumo básico — equivalente a 6,9% do S&P 500 — e também o valor combinado dos setores de energia, serviços de utilidade pública e materiais — que, somados, representavam 7,6% do índice amplo —, de acordo com Howard Silverblatt, analista sênior do S&P Dow Jones Indices.
O tombo da ação da Apple não é um evento isolado, com os outros papéis de tecnologia acompanhando a queda, depois de também passarem por ralis acentuados. As ações da Microsoft (-6,19%), Alphabet (-5,12%), Amazon (-4,63%) e Facebook (-3,76%) também operaram todas em queda.
“Os últimos dias de negociação foram frenéticos. Na terça-feira, tudo parecia bem para as ações de tecnologia, já que as grandes estrelas do setor continuaram sua ascensão meteórica. Hoje, a rotação das ações de tecnologia para as cíclicos inicialmente continuou, mas de repente todas passaram a ser vendidas porque havia muita espuma nos mercados”, disse Moya, da Oanda.
Fonte: “G1”, 03/9/2020
Foto: Brendan McDermid/Reuters