Baixo crescimento da economia, inflação em alta e as intervenções do governo em alguns setores (como bancário e elétrico) fizeram o Brasil despencar da liderança para o quinto lugar em atratividade de investimentos no varejo. A constatação é do Global Retail Development Index (GRDI), índice elaborado pela consultoria A.T.Kearney, que avalia anualmente o ambiente de negócios dos 30 países mais atrativos para receber recursos dos varejistas mundiais. O Brasil só não caiu mais por possuir um dos maiores mercados consumidores do mundo, explicou Pietro Gandolfi, diretor da A.T. Kearney.
A liderança brasileira no ranking havia sido conquistada em 2011 — quando o país saltou do quinto para o primeiro lugar. Em 2014, o Brasil ficou atrás de Chile, China, Uruguai e Emirados Árabes, nesta ordem. A pesquisa não mensura em valores absolutos o volume de investimentos estrangeiros no varejo.
— Os resultados do Brasil ficaram abaixo das expectativas. O conjunto inflação em alta, PIB baixo e juros subindo querem dizer que o poder de compra do consumidor não cresceu e que um investimento, sobretudo no varejo, não terá retorno rápido. Por isso o país caiu no ranking — explicou Gandolfi.
O executivo diz que o entusiasmo dos investidores com o Brasil, depois da crise mundial de 2008, caiu bastante. Agora, a reversão dessa curva poderá acontecer depois das eleições presidenciais marcadas para esse ano, que podem dar um novo rumo à economia, de acordo com ele. Mesmo com a realização da Copa do Mundo no Brasil, o impacto para a imagem do país em termos de atratividade de investimentos no varejo é neutro, diz Gandolfi.
— Copa é interessante, faz os olhos do mundo se voltarem para o país, mas não cria nem tira atratividade de investimento para o varejo global. Normalmente, o retorno de um evento deste tipo vem depois de sua realização. Se passar bem pela Copa, o país poderá colher bons frutos no futuro — estima.
Embora não crave previsões, Gandolfi disse que a expectativa para os próximos anos é que o Brasil continue entre os primeiros cinco colocados.
Outra constatação do especialista é a mudança de perfil do varejista que está de olho no mercado nacional nos últimos dez anos. Gandolfi explica que o Brasil já tem o chamado varejo generalista (supers e hipermercados) bem consolidado. Agora, o país precisa é de lojas mais sofisticadas e com diferenciais. Como exemplo, ele cita a chegada da Forever 21, TopShop e GAP em 2013, todas do setor de vestuário.
Diferença latina
Na América Latina, Chile e Uruguai superaram o Brasil no ranking de 2014. Sistemas tributários mais simples e pouca burocracia na abertura de empresas são as vantagens que os dois países têm em relação ao Brasil. Os chilenos, que aparacem na primeira colocação do índice, têm ainda como vantagem a estabilidade econômica somada ao crescimento forte do PIB. O Uruguai, por sua vez, embora possua apenas 3 milhões de habitantes, possui diversas zonas francas, que atraem investidores.
— Tanto no Chile quanto no Uruguai o retorno do investimento no varejo é praticamente imediato. Já no Brasil, que é muito burocrático e têm um sistema tributário difícil de entender, o retorno demora para aparecer — esclareceu Gandolfi.
Para se ter uma ideia da diferença tributária citada pelo executivo, pesquisa feita pela KPMG Internacional, publicada na semana passada, mostrou que o Brasil tem a sexta maior alíquota de imposto para empresas, de 34%, contra 25% do Uruguai e 17% do Chile.
Dados do Banco Mundial também mostram que as empresas gastam 2.600 horas por ano com preenchimento de formulários e pagamento de impostos no Brasil. Enquanto no Chile, são 300 horas.
Brics
Entre as chamadas economias emergentes (o grupo formado por China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul), o Brasil só perde em atratividade para a China. A Rússia aparece em 12° lugar e embora seja considerada um local atraente para o setor ainda é um país muito fechado à entrada de estrangeiros. Já a Índia, que está na 20ª colocação, mesmo tendo um grande mercado consumidor, também dificulta a entrada de estrangeiros nesse mercado.
Fonte: O Globo
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