Ainda o único país latino-americano a figurar na lista, o Brasil caiu de 24º para 29º lugar entre os 30 países do ranking de “soft power”, conceito da diplomacia que estima o poder de influência dos países nas relações internacionais com base em critérios não-militares, como cultura, penetração digital, entre outros, em oposição ao “hard power” das relações baseadas na força. A University of Southern California (USC) divulga nesta terça-feira a terceira edição do ranking, elaborado pelo seu departamento de estudos da diplomacia.
Em 2015, o Brasil havia aparecido na 23ª posição, tendo caído um posto no ano passado e agora mais cinco posições, a maior queda entre todos os países no último ano. Em seu comentário sobre a situação brasileira, os pesquisadores da USC afirmam que “as Olimpíadas do Rio parecem ter fracassado em mascarar os profundos problemas econômicos e sociais que o país encara”.
Os pesquisadores elaboraram uma equação própria para estabelecer a pontuação de cada país e formar o ranking. Com um peso de 70% na pontuação final, são estabelecidos seis critérios “objetivos”, com pontuação para os itens de governo, força do setor privado, engajamento da sociedade, influência e integração digital, educação e cultura. Os demais 30% da pontuação são formados por critérios “subjetivos” que mostram a integração com o resto do globo, como a percepção, por nações estrangeiras, de sua contribuição à cultura global, entre outros pontos.
— É importante lembrar que este ranking não tem exatamente um caráter científico, mas é um bom indicador da imagem do país. Pelo que se acompanha nos meios diplomáticos e internacionais, é possível dizer que esta piora do Brasil reflete a perda de imagem com a crise econômica e a crise política. Na primeira década do século, havia um aspecto importante da imagem brasileira que era a perspectiva econômica, o potencial de crescimento. Continuamos a oitava economia do mundo, mas esta percepção de crescimento decaiu, isso influencia — analisa o professor de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel. — A operação Lava-Jato teve em geral uma repercussão boa internacionalmente, no reforço da imagem de independência do Judiciário e combate à impunidade, mas traz também como consequência o efeito colateral da instabilidade política.
Argentina e México, que chegaram a figurar no ranking nos anos anteriores, desta vez ficaram de fora, indicando uma tendência de baixa da América Latina na influência global, na visão do estudo. Boa parte da pontuação brasileira tem por base pontos da cultura nacional com grande inserção no exterior: “futebol, artes e festivais, como o Carnaval, levaram o país a pontuar bem no subíndice cultural”, segundo a USC.
França lidera com Macron
Além da queda brasileira, houve outras mudanças significativas no ranking internacional de “soft power”. Já com os efeitos da recente vitória eleitoral do novo presidente Emmanuel Macron, a França saltou da quinta posição para a liderança da lista. “Apesar dos recentes ataques terroristas e do aumento do populismo nacionalista de extrema-direita, a vitória de Macron representou uma promessa de maior engajamento e liderança global”, dizem os pesquisadores, ressaltando que o país europeu teve excelente desempenho na pesquisa realizada em 25 países que ajudou a basear o ranking.
No ano passado, os Estados Unidos ocupavam a liderança, e caíram para o terceiro lugar com a ascensão de Donald Trump e sua pouca amistosa política internacional. O estudo cita a “retórica nacionalista” do novo ocupante da Casa Branca e uma “abordagem mercantil” da política exterior. O Reino Unido manteve-se em segundo lugar, enquanto Alemanha (4ª) e Canadá (5ª) completam o top cinco. A China, segunda maior potência econômica do planeta, figura apenas na 25ª colocação do ranking.
Fonte: “O Globo”.
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