Se há algo em comum entre a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, o abalo da zona do euro em 2010 e a desaceleração atual dos emergentes, é a dificuldade da política em reagir adequadamente aos desafios econômicos de seu tempo.
Essa é uma das conclusões de Barry Eichengreen, autor de livros como “A globalização do capital” e “Privilégio exorbitante – A ascensão e a queda do dólar e o futuro do sistema monetário internacional”, ambos publicados no Brasil. Ele já foi consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ensina Economia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, em Berkeley, desde 1987.
O americano esteve no Brasil para duas palestras na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e conversou com Exame.com, na terça-feira, dia 13 de agosto, sobre países emergentes, Estados Unidos, Europa, crise e desemprego.
Exame.com: Como você avalia os aprendizados após a crise de 2008?
Barry Eichengreen: Fomos relativamente bem na provisão de liquidez no curto prazo, mas muito mal na reforma financeira. Muitos dos elementos que levaram à crise continuam presentes: não fizemos praticamente nada sobre “too big to fail” e derivativos.
Os problemas não foram de aprendizado, mas de implementação. Nós, economistas, sabemos entender e apontar soluções, mas não somos bons em prever problemas e entender os limites políticos na hora de dar o remédio. Uma das maiores lições da crise para economistas é que tudo se resume à política.
Exame.com: Nesta segunda-feira, um estudo mostrou que pela primeira vez desde 2007, países desenvolvidos voltaram a contribuir mais para o crescimento global do que os emergentes. A euforia acabou ou esse é um suspiro temporário?
Eichengreen: A história chinesa está basicamente intacta. Não existe razão para que eles não possam continuar crescendo a 7% ou 8% ao ano por um período longo – e com as reformas corretas, a Índia também pode. Sempre foi um pouco artificial colocar esses países junto com Rússia, Brasil e África do Sul, são economias muito diferentes.
Parte da euforia em relação aos BRICS acabou. Mas, no longo prazo, países de renda média ainda devem crescer mais que países ricos. A lógica que fez as pessoas apostarem nos emergentes continua: a diferença é que antes, bastava ter esse rótulo para ser visto como um investimento certo, e agora os investidores estão mais seletivos – como deveriam.
Exame.com: Um dos temas da sua palestra é a “armadilha da renda média”. O Brasil caiu nela?
Eichengreen: Processos de desaceleração de crescimento acontecem em vários níveis de renda, mas a maior proporção é no PIB [Produto Interno Bruto] per capita que o Brasil está exatamente agora. Não é atípico que o crescimento diminua neste ponto, mas não há nada de inevitável na “armadilha da renda média”.
No trabalho que fiz com meus colegas, olhamos para os 40 casos de países da história moderna que cresceram rápido por sete a dez anos e então desaceleraram. Vocês não têm muitas das características e condições deles, como taxas de câmbio depreciadas, taxas de investimentos insustentáveis e população muito velha. Esses não são problemas para o Brasil.
Mas outros fatores, como participação muito pequena de exportações de alta tecnologia, são. E países com altos níveis de educação tendem a superar essas desacelerações com mais sucesso – nesse aspecto, o Brasil está mais ou menos.
Tudo depende das políticas adotadas. O Brasil pode continuar crescendo de 4% a 6% ao ano se fizer investimentos, manter uma taxa de câmbio apropriada, investir melhor em educação e encontrar uma forma de exportar produtos com mais tecnologia.
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