Homem mais rico do Brasil conclama estudantes e empreendedores para que se tornem protagonistas no mundo político
“Continuo animado com o Brasil. O país vai passar por grandes transformações a partir do ano que vem e nos anos seguintes. Eu desejo que os jovens aqui presentes participem dessas mudanças”. Foi assim que o empresário Jorge Paulo Lemann, sócio do 3G Capital, AB Inbev, Kraft Heinz, entre outros negócios, abriu o evento anual da Fundação Estudar, em São Paulo, realizado nesta segunda-feira (07/08). “Espero que algum bolsista da Fundação Estudar venha a ser um dia presidente do Brasil e arraste vários outros talentos com ele”. Lemann não citou explicitamente a crise política e econômica do país, mas acenou com otimismo a possibilidade de existir uma administração pública mais ética e mais profissionalizada — um movimento que começaria a ganhar mais força a partir da eleição presidencial de 2018.
Lemann subiu ao palco após uma breve apresentação sobre os resultados recentes da Fundação Estudar. No último ano, o número de candidatos às bolsas oferecidas pela instituição chegou a 84.107, transformando o programa Líderes Estudar em um dos mais concorridos do país. “Trinta anos atrás, eu resolvi que ia dar bolsas de estudo para alguns jovens de alto impacto. Quando eu perdi o controle de para quem estava dando essas bolsas, criei, junto com o Beto [Sicupira] e o Marcel [Telles], a Fundação, para sistematizar o processo todo”, disse Lemann. “E foi uma coisa ótima, porque hoje é uma instituição que caminha sozinha e deve continuar existindo mesmo quando eu, o Beto e o Marcel já não estivermos mais aqui.”
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A história de sucesso da Fundação Estudar
O evento da Fundação Estudar é uma espécie de confraternização entre bolsistas, ex-estudantes, doadores e mentores de carreira. A programação é montada em torno de histórias de superação de profissionais que receberam bolsas para estudar fora e voltaram ao Brasil para empreender ou colocar suas ideias em prática dentro de grandes empresas. Essa é, aliás, uma premissa reforçada a todo o momento entre os dirigentes da instituição. “Infelizmente, as melhores universidades do mundo estão fora do Brasil. Por isso, incentivamos que as pessoas busquem conhecimento de ponta lá fora, mas voltem ao país para fazer a diferença e entregar de volta para a sociedade um pouco daquilo que receberam”, disse Tiago Mitraud, diretor da Fundação Estudar.
Um dos painéis do evento teve como tema a educação pública, com Claudia Costin, diretora do Centro de Inovação em Políticas Educacionais da FGV-RJ, e Duda Falcão, co-CEO da Eleva, que mantém um grupo de escolas de elite (Jorge Paulo Lemann é o maior investidor e integra o conselho do grupo). Duda citou uma pesquisa de James Heckman, economista da Universidade de Chicago, que faz correlações sobre o sucesso de um aluno do século 21. “Conteúdo acadêmico tem uma correlação de 40% com o sucesso, e habilidades de vida, como resiliência, intraempreendedorismo e senso crítico, tem uma correlação de 26%. Então, se existe algo que represente mais da metade do peso do conteúdo, isso precisa estar no currículo também”, disse Duda.
Outra parte da programação foi enriquecida com palestrantes ilustres, como o treinador de voleibol Bernardinho e o apresentador Luciano Huck. Bernardinho contou que recebeu vários convites para atuar em outros países quando deixou a seleção brasileira masculina, no início deste ano, após 28 títulos conquistados em 17 anos na função. “Preferi ficar aqui no Brasil e ainda estou analisando meus próximos passos”, disse ele. “Dias atrás fui na reunião de pais na escola da minha filha e o assunto predominante era formar cidadãos para estudar fora e fazer a vida fora daqui. Eu pedi a palavra e disse que o país nunca precisou tanto de sua elite empreendedora e intelectual como agora.”
Luciano Huck ressaltou que sua geração precisa ocupar os espaços de poder e que diante do colapso do sistema político e da crise ética novas lideranças vão surgir. O apresentador, porém, afirmou que não é candidato político. “Tenho 40 milhões de seguidores nas redes sociais e 20 milhões de pessoas todo sábado assistindo ao meu programa. Quero usar essa força para gerar ideias e unir gente do bem em um projeto para construir o futuro que queremos. A gente precisa imaginá-lo e criá-lo”, disse ele.
De acordo com Huck, as lideranças no mundo têm que reunir quatro características principais: “Carisma e capacidade de execução são fundamentais. Mas, se ficar só nestas duas, dá para eleger Hitler e Gandhi no mesmo saco. Acrescenta ética e já tira um monte da lista. Só que a pessoa carismática e ética pode ser egoísta, certo? Aí coloca o altruísmo e você encontra os líderes que fazem do mundo um lugar melhor.” Bernardinho acrescentou que a prática da liderança no esporte lhe ensinou que, mesmo quando o caminho é difícil e as críticas são muitas, é fundamental não abrir mão da própria essência: “O vencedor é o perdedor que não desistiu e tentou mais algumas vezes.”
Fonte: revista “PEGN”
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