Mesas coloridas e desarrumadas, salas com nomes “criativos” e cafés descolados ao lado de grandes marcas. É esse o ambiente de lugares como Cubo, do Itaú, e o Google Campus, centros criados em São Paulo por grandes companhias para abrigar startups. Nos últimos dois anos, eles ajudaram empresas inovadoras a receber mais de R$ 110 milhões em investimentos, segundo levantamento feito pelo ‘Estado’. Há mais por vir: em 2018, esse tipo de espaço vai se multiplicar no País.
Recentemente, Facebook e Bradesco anunciaram que vão abrir nos próximos meses os seus próprios prédios, o Estação Hack e o Habitat, respectivamente. Ambos vão ficar na região da Avenida Paulista. O foco do Facebook será a capacitação de desenvolvedores e empreendedores: no Estação Hack, haverá três salas de aula, com 40 vagas, e serão oferecidas 7,4 mil bolsas de estudos em diferentes cursos, entre programação, marketing digital, planejamento de carreira e administração de empresas.
Já o Bradesco deve ter 10 mil quadrados para hospedar startups e outros atores do ecossistema, como fundos e investidores, em um perfil parecido com o do Cubo, em espaço de trabalho compartilhado (coworking). Não é só: segundo apurou o Estado, o Banco do Brasil divulgará iniciativa similar em outubro. Mesmo sob recuperação judicial, a Oi abriu um espaço no Rio de Janeiro há duas semanas.
Além disso, o Cubo vai quadruplicar de tamanho: seu novo prédio, na mesma Vila Olímpia em que está hoje, terá 21 mil metros quadrados, contra os atuais 5 mil metros quadrados, e poderá atender 210 startups a partir do 1º semestre de 2018 – hoje, tem 54. Atualmente, cada empresa paga à entidade cerca de R$ 1 mil por estação de trabalho no local, segundo o banco – que não revela o valor investido no novo Cubo.
Justificativa
Visitar esses espaços é algo que qualquer pessoa pode fazer, mas para fincar suas bases neles, as startups passam por seleções rigorosas. “Quem passa por eles ganha um selo de qualidade”, diz Maria Rita Spina, diretora executiva da Anjos do Brasil, principal associação de investidores anjo do País. Além do acesso a investidores e grandes empresas, que podem se tornar clientes no futuro próximo, os empreendedores também buscam conteúdo e mentoria.
Para empresas tradicionais, construir centros para startups é uma forma atraente de se manter próximo à inovação. “Nossos executivos viajavam muito ao Vale do Silício. Criamos o Cubo para trazer as provocações para perto”, diz Lineu Andrade, diretor do banco Itaú para o Cubo.
Já para empresas de tecnologia como Google e Facebook, nascidas como startups, criar tais espaços é um jeito de continuarem “frescas”. “Pelo crescimento que tiveram, essas empresas hoje são corporações cheias de processos”, diz Maria Rita. Além disso, os centros também ajudam as gigantes a melhorarem sua imagem por aqui e também mostrarem seus produtos para as startups, engordando sua lista de clientes.
Densidade. No Vale do Silício, Meca das startups, achar espaços mantidos por grandes companhias é difícil. Lá, como o ecossistema é bem mais maduro, a ajuda de marcas fortes não é tão necessária. Fora dos EUA, porém, elas se tornaram vitais para fomentar a colaboração entre diferentes startups.
Para Rogério Tamassia, presidente executivo da aceleradora Liga Ventures, a profusão de espaços em São Paulo mostra que a cidade já é um “hub” na América Latina. “A proximidade entre atores é um fator vital para desenvolver um ecossistema”, explica. A posição não é unânime: “ainda vejo SP em estágio inicial como centro global”, diz Barrence, do Campus.
Hoje, o executivo já planeja como lidar com o crescimento que espera para o futuro. “Teremos de ser capazes de ajudar startups em estágio avançado, discutindo temas como internacionalização”, diz. “Será algo especializado, mas relevante.”
Para Matos, da Startup Farm, a profusão de espaços, porém, corre o risco de saturar o mercado – e até gerar o efeito oposto ao desejado. “Antes, um centro desses concentrava ‘todo mundo’ lá”, explica. “Quando ocorre uma descentralização, há o risco das iniciativas se separarem e surgirem problemas para criar diálogos.”
VEJA ABAIXO OS DADOS DIVULGADOS PELO CENSO 2016.
EVOLUÇÃO DE COWORKINGS NO PAÍS
Embora o crescimento deste tipo de espaço esteja crescendo, boa parte ainda está concentrado em grandes cidades das regiões Sudeste e Sul. Faz algum sentindo. Os coworkings tendem a ficar localizados em áreas centrais, onde a diversidade e a densidade de pessoas são naturalmente mais altas, ao contrários de outros clusters que agrupam empresas em zonas industriais ou áreas suburbanas. Por outro lado, o dado mostra uma enorme possibilidade de empreender com esse tipo de negócio em outras regiões do Brasil.
13.800 – é o número total de coworkings em todo o mundo
30% – foi quanto cresceu o número de coworkings no mundo entre 2015 e 2016
52%- foi quanto cresceu o número de coworkings no Brasil entre 2015 e 2016
R$800 – por pessoa/mês. É o preço médio do aluguel nas capitais
POR ESTADO
2015- Azul
+10.000 – posições de trabalho ou
26 – aviões 747 lotados
57 – usuários, em média, por escritório
494 – salas de reuniões
840 – salas privadas
53 –espaços funcionam 24 h por dia
26% – são pet friendly
A maioria dos coworkings ganha dinheiro alugando salas e mesas de trabalho para empreendedores, profissionais liberais, freelances e empresas que precisam de espaço flexível. O preço médio cobrado por pessoa nas capitais, fica em R$800 mensais. Em geral, o valor varia conforme o período de contrato (12 meses, seis meses, três meses ou diário). Outros serviços podem estar inclusos, como secretária, limpeza e estacionamento. Alguns ambientes dispõem de salas de reuniões alugadas por hora e de anfiteatro para eventos.
90,9% dos espaços organizam eventos
Os escritórios compartilhados inicialmente foram ocupados por startups e profissionais ligados às áreas de internet, tecnologia e indústria criativa (consultorias, agências de marketing e negócios sociais). Porém, o mercado vem criando nichos de todos os tipos. Já existem coworkings específicos para advogados, dentistas, empresas de moda e negócios que demandam estoque físico de mercadorias (storage).
PERFIL DE QUEM TRABALHA NO COWORKING
ELES VEEM VANTAGENS NO FORMATO…
82% – acreditam que o ambiente compartilhado oferece ótimas oportunidades de networking
76% – acreditam que o coworking é o ambiente ideal para o crescimento
…MAS TAMBÉM TÊM QUEIXAS
66% – acreditam que os ambientes não são formais o suficiente para receber clientes
52% –acreditam que o ambiente não é adequado para reuniões com a equipe
64% – reclama da pouca privacidade no ambiente compartilhado
60% – diz que a velocidade da internet é um obstáculo para os negócios
51% – temem que documentos sensíveis e confidenciais possam ser lidos por outras empresas que trabalham no mesmo ambiente
Na edição de julho, a revista Pequenas Empresas & Grandes Negóciostraz um guia com informações sobre os principais coworkings do Brasil (incluindo preço e infraestrutura oferecida), as principais diferenças entre home office e coworking, as vantagens e desvantagens de cada formato e as dicas para aproveitar ao máximo sua estadia.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grande Negócios”
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