Nesta semana, encerramos um ciclo inesperadamente animador da vida nacional, com a realização bem-sucedida dos Jogos Olímpicos e uma atuação bastante razoável dos nossos atletas. Precisávamos disso. Desde os debates que marcaram o início do processo do impeachment e a disfuncional polarização a ele associado, estávamos de mau humor e com certa paralisia institucional. Tudo mais havia saído de pauta, como se a questão central do país fosse a corrupção e, sendo isso muito difícil de eliminar, estaríamos destinados ao fracasso.
Passada a constatação de que somos capazes de organizar os Jogos e mesmo deixar um legado para a cidade do Rio de Janeiro, na forma de museus, revitalização do centro e complexos viários, parece ter chegado o momento de recolocar, agora em termos mais animados, outros temas na agenda.
E é neste momento que a convergência de dois eventos entra em cena: as discussões sobre um eventual impeachment e a campanha eleitoral. Nos dois, as discussões tendem a focar questões de curto prazo e avaliações políticas rasas. Não irão certamente focar o projeto de país que se quer construir.
Mas este é o grande tema que deveria nos mobilizar daqui para a frente, visto que falhamos em algumas coisas importantes, como assegurar uma educação de qualidade para crianças e jovens, ter uma produtividade do trabalho à altura do estágio de desenvolvimento do país, oferecer uma adequada atenção à saúde ou contar com uma infraestrutura que não engargale o crescimento ou prejudique o ambiente. Mais do que isso, garantir que avanços (e houve avanços, sem dúvida, nos últimos 20 anos) nessa direção se mantenham mesmo com mudanças de governos.
Se o debate eleitoral que se inicia e os programas dos próximos prefeitos contemplarem algumas dessas questões, sairemos ganhando. Tenho minhas dúvidas, mas vale a pena esperar alguma ênfase nas questões de fundo do cenário nacional.
Em educação, de acordo com o relatório lançado segunda-feira (22) pela Comissão de Educação do Diálogo Interamericano, o Brasil ainda tem muito o que fazer. Apesar de ter sido o país que mais avançou em matemática no Pisa, exame internacional de qualidade da educação, ainda se posiciona em 58º lugar entre as 65 economias que participaram da prova e levaria, no andar da carruagem, 27 anos para alcançar a média dos países da OCDE.
São esses temas que vou abordar na minha coluna semanal aqui na Folha. Que desafios temos que enfrentar e como construir uma agenda de longo prazo que coloque o Brasil num outro patamar, tanto em educação quanto em outras políticas públicas? Aceito sugestões.
Fonte: Folha de S.Paulo, 26/08/2016.
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