Se no futebol o Chile (eliminado pela Seleção nas oitavas de final da Copa) ainda tem muito a aprender com o Brasil, fora dele a situação é diferente. Em termos de desenvolvimento econômico, político e social, nossos vizinhos andinos têm lições importantes a nos ensinar.
Com território pouco maior do que o de Minas Gerais e população equivalente à do Rio de Janeiro, o Chile é um país interessante. Sua história tinha tudo para ser a de um típico país latino-americano, com uma sucessão de políticos populistas, ditaduras e instituições frágeis, incapazes de lidar com a persistente maldição das riquezas naturais.
O ingresso do Chile na OECD (o “clube dos países ricos”) e os diversos avanços dos últimos 20 anos demonstram, no entanto, que existe saída. A fórmula está aí: quanto menos interferência governamental nas vidas e nos negócios das pessoas, mais prosperidade. O caminho da liberdade econômica levou o Chile a um desenvolvimento institucional, social e econômico sem precedentes na região.
Os contraexemplos também estão próximos: Argentina, Venezuela, Cuba, países que sequer fazem por merecer a denominação de “em desenvolvimento”, dado o claro retrocesso de suas matrizes políticas e econômicas. São países em diferentes estágios do mesmo esquema de socialismo caudilho-populista, intolerante à democracia e à economia de mercado.
O Brasil encontra-se em posição intermediária, hesitante mas flertando perigosamente com o “clube do atraso” e, com isso, perdendo seguidas oportunidades de desenvolver-se economicamente. Nosso medíocre desempenho histórico nesta seara é um reflexo direto da (má) qualidade de nossas instituições.
Duas instituições – Heritage Foundation (EUA) e Fraser Institute (Canadá) – compilam dados de países sobre tributação, tamanho do governo, abertura ao comércio internacional, liberdade de investimentos e respeito à propriedade privada. A partir dos resultados, elaboram rankings de liberdade econômica (Index of Economic Freedom, da Heritage, e Economic Freedom of the World, do Fraser). Ao compararmos a colocação do Chile e do Brasil, fica claro o contraste. O Chile é tido, pela média dos rankings, como o 9° país mais livre economicamente do mundo, enquanto o Brasil é 108°.
Outro indicador internacional respeitado é o relatório “Doing Business in the World”, do Banco Mundial. Produzido anualmente, a partir de critérios como pagamento de impostos, registro de propriedade, proteção a investidores e segurança jurídica, o “Doing Business” compara a facilidade em se realizar negócios mundo afora. Também estamos anos-luz atrás. Enquanto o Chile apresenta o 34° ambiente mais amigável aos negócios, o Brasil encontra-se na 116ª posição, dentre 189 analisados.
Não por acaso, o Chile vai deixando de vez a condição de subdesenvolvimento que caracteriza os outros países latino-americanos. Parecem ter entendido que não se tem redução da pobreza sem crescimento econômico, e que criar empecilhos ao trabalho e à livre-iniciativa equivale a matar a galinha de ovos de ouro.
Enquanto muitos de seus vizinhos buscam o desenvolvimento por meio de medidas estatizantes e que desincentivam a criação de riqueza, a poupança e o investimento, o Chile segue a receita cujo êxito é empiricamente comprovado: economia de mercado baseada na livre iniciativa de indivíduos e empresas atuando sob um arcabouço jurídico sólido, claro e previsível.
A lição já foi enunciada por Adam Smith em seu clássico Riqueza das Nações, de 1776: “É necessário pouco mais do que paz, impostos fáceis e uma boa administração da justiça para levar um Estado do barbarismo mais baixo ao mais alto grau de opulência; todo o resto é trazido pelo curso natural das coisas”. Simples assim.
Fonte: Instituto Liberal, 7/7/2014
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