Num ambiente de baixas temperaturas em Copenhague, os interesses divergentes e ânimos acalorados não possibilitaram um consenso na Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A chamada COP-15, que terminou na sexta-feira, 18 de dezembro de 2009, evidenciou como discussões associadas a temas ambientais transcendem o debate científico.
Cientistas de renome internacional indicam que estaria em curso um aquecimento da atmosfera terrestre. Vários cientistas atestam adicionalmente que esse aumento de temperatura estaria diretamente relacionado a uma maior atividade humana. Duvidar da pertinência desses dois pareceres, aparentemente unânimes, requer muita determinação, por ser relativamente simples desqualificar aquelas pessoas que equiparam os mencionados pareceres a opiniões, ao invés de respaldarem-nos como fatos incontestáveis. Assim, pressupõe-se que todos concordam que existe de fato um aquecimento global e sobretudo que o ser humano seria suficientemente poderoso para alterar a evolução da temperatura do planeta Terra de forma favorável ou não.
Na realidade, se atualmente não houvesse qualquer efeito estufa no planeta Terra, a temperatura média na superfície poderia congelar a água e impediria as atuais formas de vida. E mais, pouco é conhecido sobre a contribuição dos ciclos de atividade solar para o aumento da energia na Terra. Além disso, antes da espécie humana povoar a Terra, houve diferentes e longos ciclos de mudança de temperatura, inclusive com eras glaciais. Ademais, considerando que a órbita da Terra em torno do Sol está entre a menor órbita de Vênus, onde o efeito estufa é “enorme”, e a maior órbita de Marte, onde o mesmo fenômeno não se verifica, fica a reflexão do porquê a Terra ter sido naturalmente “privilegiada” com um nível de efeito estufa “adequado”, além de nos lembrar o quanto são tênues as condições para haver vida humana na Terra. Destaca-se ainda que é pouco compreendida a influência dos oceanos na ocorrência dos fenômenos meteorológicos, incluindo o entendimento da elevação periódica da temperatura do Oceano Pacífico. Como os oceanos cobrem pelo menos 70% da superfície terrestre, a ponto do russo Yuri Gagarin ter constatado em abril de 1961 que “a Terra é azul”, é muito provável que o clima da Terra também sofra a influência de processos ainda ignorados que ocorrem nos mares e oceanos, onde inclusive gases de efeito estufa são liberados para a atmosfera terrestre e portanto acirram o seu aquecimento.
Se, por um lado, é muita pretensão mitigar em poucas linhas o tema científico que fundamentou a COP-15 em Copenhague, por outro lado, é impossível negar que os pareceres científicos inflamam o clima dos debates sobre as desigualdades entre os países, assim como sobre os motivos que acarretam o desenvolvimento e sustentam a prosperidade de nações. Independentemente de colaborar para não agravar as mudanças climáticas, as providências para reduzir as emissões de gases de efeito estufa requerem uma alteração profunda nas matrizes energéticas de diversos países classificados como emergentes e sobretudo daqueles países tidos como industrializados.
Estes países foram apontados como os principais responsáveis pelo fracasso da COP-15, como se a defesa de seus interesses fosse ilegítima. Todavia, uma avaliação empática pode revelar a dificuldade daqueles países aceitarem uma mudança brusca no seu padrão de vida, inclusive considerando momentos históricos traumáticos. Foi nos países atualmente considerados ricos que houve notáveis pressões demográficas que fomentaram a necessidade de encontrar novos territórios para onde partiram grandes fluxos de emigrantes. O progresso tecnológico não assegurou sempre e a todos recursos abundantes ou a possibilidade de vida com conforto. Naqueles países raramente existe fartura ostensiva e em geral há um combate obstinado contra as perdas e os desperdícios. É justamente lá onde a vida com muito estresse gera baixíssimas taxas de natalidade e onde ocorrem sistematicamente as manifestações mais violentas contra a globalização com reflexos nas atitudes dos governantes nas negociações internacionais, inclusive sobre temas ambientais.
Assim, o impasse na COP-15 evidenciou tanto o aumento da participação e união geopolítica dos países tidos como em desenvolvimento, quanto a perda de liderança e de capacidade de persuasão dos países tidos como ricos. Estes países agora se esforçam muito para retomar ao nível de prosperidade anterior à crise financeira mundial de 2008, cuja ocorrência comprovou a observação de Seneca: “Quanto maior é a prosperidade menos se deve confiar nela”.
(Jornal do Commercio, 23/12/2009)
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