Por Luca Bertazzoli
Se alguém perguntasse qual é o maior preditor de sucesso financeiro, o que se responderia? Talvez a resposta fosse educação, trabalho duro, boas conexões ou uma base familiar sólida. E, claro, tudo isso conta. Mas, segundo Scott Galloway, um dos financistas mais respeitados da atualidade, o fator mais determinante para o sucesso financeiro de uma pessoa é onde e quando ela nasce.
Faz sentido. Nascer nos EUA no século XXI foi muito melhor do que nascer no Afeganistão no século XIX.
Assim sendo, analisando o presente: Um jovem de periferia com um smartphone tem mais acesso à informação do que Bill Clinton quando era presidente. John D. Rockefeller, classificado pela Forbes como o homem mais rico da história, fez fortuna vendendo querosene para iluminação pública — obviamente antes da popularização da eletricidade. Ou seja, viveu a maior parte da sua vida sem os recursos básicos que hoje são considerados triviais.
É necessário observar que se vive em uma excelente época da história da humanidade. Pela primeira vez, morrem mais por excesso de comida do que por fome. Em 2014 a OMS declarou que doenças associadas à obesidade já superam a desnutrição em mortalidade global. Algo inimaginável há 100 anos. Vive-se, de fato, no futuro previsto por Joseph Schumpeter: as destruições criativas — as revoluções tecnológicas — causadas pelo empreendedorismo, transformaram o mundo em um ambiente de prosperidade inédita.
Portanto, se se teve sorte de viver em um excelente tempo, um fator que definirá o futuro da riqueza, do progresso e das oportunidades tanto pessoais quanto coletivas — é onde se mora.
Sendo assim, observe-se o Brasil: ainda que o país seja abençoado com todas as dádivas tecnológicas ao alcance, vive-se sob os efeitos de uma estrutura política social invertida. Como lembra Paulo Guedes, o Brasil foi construído de cima para baixo — desde as capitanias hereditárias, por imposição política — em um modelo em que o poder sempre emanou do Estado, não da sociedade. Ao contrário dos Estados Unidos, que surgiram da união voluntária de suas colônias e da força da sociedade civil em um Estado de direito, no Brasil o governo sempre ocupou o centro da vida nacional. O resultado? Um Estado inchado, intervencionista e, como alertava Adam Smith, um entrave à liberdade individual e ao funcionamento saudável do mercado.
Esse modelo comprometeu o desenvolvimento do país. O Brasil foi forçado a entrar na Terceira Revolução Industrial às pressas, sem preparo e sem planejamento urbano adequado. O resultado está diante de todos: urbanização caótica, congestionamentos, problemas sociais e infraestrutura precária, disfarçados por serviços públicos sobrecarregados e pseudosoluções políticas que apenas alimentam o ciclo vicioso da arrecadação tributária e da ampliação estatal.
Diante disso, surgem perguntas inevitáveis: como romper com uma estrutura sociopolítica tão burocrática e resistente à inovação? Como promover liberdade econômica, reduzir impostos e fortalecer o livre mercado em um sistema que rejeita mudanças e centraliza decisões?
A resposta mais eficaz até agora veio do Massachusetts Institute of Technology (MIT), na forma de um novo paradigma urbano: as cidades inteligentes (Smart Cities). Trata-se de um modelo que incorpora soluções em ciência de dados, inteligência artificial e automação para solucionar problemas urbanos, sociais e econômicos com realismo, eficiência e compatibilidade com as realidades locais, sem ferir a privacidade, liberdade e propriedade privada de seus habitantes.
Segundo o MIT, as cidades do futuro não serão apenas digitais, mas verdadeiramente inteligentes: eficientes, sustentáveis e economicamente dinâmicas. Elas funcionarão como motores de desenvolvimento impulsionados por inteligência artificial, autogestão e governança enxuta com a maior eficiência possível, sem comprometer a privacidade dos cidadãos.
Essa visão urbana representa uma mudança de mentalidade: eficiência aliada à liberdade econômica, inovação com responsabilidade fiscal e gestão pública orientada por dados e resultados — não por ideologias ou interesses políticos.
Mais do que um avanço tecnológico, esse modelo representa uma ruptura com o centralismo estatal. A tecnologia aqui não serve para ampliar o poder do governo, mas para reduzi-lo de forma inteligente. Ao automatizar processos, descentralizar decisões e promover a transparência, o papel do Estado se torna menos controlador e mais facilitador. A burocracia perde espaço para sistemas inteligentes e interoperáveis que eliminam ineficiências históricas.
Além disso, a própria arquitetura de software das cidades inteligentes pressupõe, em sua concepção estrutural, o respeito à privacidade dos dados e a redução da intervenção estatal ao mínimo necessário. São algoritmos que exigem operar com eficiência descentralizada, onde a proteção das informações do cidadão e a autonomia dos agentes locais não são apenas valores éticos, mas pré-requisitos técnicos para o bom funcionamento da cidade.
Como demonstrado de forma concreta por um estudo do MIT, que analisou quase 384 mil solicitações de serviços públicos em 112 cidades da Índia, aquelas que mais respeitaram a privacidade dos cidadãos — coletando apenas os dados estritamente necessários e evitando informações sensíveis como telefone e endereço — foram também as mais eficientes na prestação de serviços. Utilizando dois indicadores, um de eficiência governamental e outro de privacidade da informação, os pesquisadores concluíram que a simplicidade na coleta de dados e a redução de intermediários resultam em maior agilidade operacional. O estudo demonstra, de forma empírica, que quanto maior o respeito à privacidade, maior a eficiência urbana.
Esse efeito ocorre porque, no campo da engenharia de dados e inteligência artificial, segundo a fundamental teoria da informação de Claude Shannon, quanto maior a quantidade de dados irrelevantes em um sistema, maior o ruído informacional e menor a eficiência na transmissão e uso da informação útil. Além disso, sistemas com menos variáveis de entrada exigem menor poder computacional, menos gastos com armazenamento, apresentam menos erros operacionais e respondem mais rapidamente, conforme demonstrado por princípios de complexidade algorítmica e redução de dimensionalidade em ciência de dados. Assim, coletar apenas o essencial não é só uma escolha ética — é também uma escolha mais eficiente.
E, em paralelo, o mesmo efeito computacional matemático de inteligência artificial foi identificado pelo ganhador do Prêmio Nobel, o economista austríaco Friedrich Hayek, demonstrando que o conhecimento necessário para decisões eficazes está disperso entre indivíduos e contextos locais, sendo impossível centralizá-lo de forma simplista sem perda de precisão e agilidade, ferindo tanto a liberdade individual quanto econômica.
Assim, em ambientes urbanos complexos, sistemas que coletam apenas o essencial e operam de forma descentralizada são naturalmente mais eficientes. Eles reduzem o ruído, otimizam o processamento de informação e respeitam a lógica distribuída do conhecimento. Portanto, proteger a privacidade e limitar a intervenção estatal não são apenas escolhas éticas, mas princípios estruturais de funcionamento inteligente.
Logo, Smart Cities não apenas dispensam a vigilância estatal — elas a rejeitam como princípio operacional e como exigência para seu funcionamento teórico e prático em máxima desempenho. Em seu lugar, demandam uma engenharia sólida, baseada nos fundamentos de engenharia, matemática e segurança da informação. Isso pressupõe uma infraestrutura digital resiliente, com protocolos criptográficos robustos, transparência algorítmica e controle descentralizado e seletivo do fluxo de dados.
Em vez de concentrar poder no Estado, esse modelo tecnológico reposiciona o cidadão como núcleo ativo da dinâmica urbana, preservando a autonomia, privacidade e liberdade. Resultando em um ambiente urbano responsivo, capaz de se adaptar às necessidades reais, preferências e padrões econômicos da população — fomentando um ecossistema de alta eficiência, inovação contínua e prosperidade compartilhada.
Cidades inteligentes não expandem o governo — elas o contêm, racionalizam e substituem pela lógica da eficiência e liberdade. A tecnologia passa a estar a serviço das pessoas — e não o contrário. O Estado não é o centro da vida urbana — é a liberdade que ocupa esse lugar. Assim, o empreendedorismo, a sustentabilidade e a inovação encontram terreno fértil para crescer, pois os obstáculos burocráticos e a intervenção ineficiente dão lugar à fluidez, à meritocracia e à confiança.
Municípios que adotam esses princípios não apenas melhoram a qualidade de vida de seus habitantes, como também criam ambientes propícios à inovação, ao empreendedorismo, à sustentabilidade e ao crescimento econômico — provando que, como descrito por Schumpeter, o livre mercado e a tecnologia são os verdadeiros motores do desenvolvimento urbano no século XXI.
Smart Cities provam que é possível ter mais sustentabilidade com menos impostos, mais qualidade de vida com menos burocracia.
Um exemplo claro do poder da tecnologia aplicada à gestão urbana é Pittsburgh (EUA). De acordo com a Vivens Business School, a cidade adotou um sistema de I.A. que ajusta semáforos em tempo real com base em dados de sensores e câmeras. O resultado foi a redução de até 25% no tempo de viagem e 40% nas esperas em cruzamentos, além de uma queda de 20% nas emissões de dióxido e monóxido de carbono.
Ao responder de forma dinâmica às demandas logísticas em tempo real e seguir princípios fundamentais da engenharia de transportes, o sistema proporcionou menos tempo parado no trânsito. Isso significa ganho de produtividade, menos gasto com combustível e menos intervenção estatal em obras caras e ineficientes. Isso é eficiência econômica e ambiental, como propõe a Escola de Chicago: menos governo, mais inovação privada.
Em Nova Iorque, sensores inteligentes já estão salvando vidas. A implementação de sensores e sistemas de monitoramento em tempo real na infraestrutura de drenagem urbana permite uma redução de até 40% na mortalidade causada por enchentes, graças à emissão de alertas antecipados e à realização de evacuações rápidas. É o que revela um estudo da Florida Atlantic University, evidenciando como a tecnologia transforma prevenção em eciência — e dados em proteção real à vida.
Segundo um levantamento da Commercial Real Estate Development Association (2023) reforça essa tendência. A pesquisa mostrou que propriedades equipadas com sensores de inundação baseados em IoT conseguiram reduzir em até 85% os incidentes relacionados à água e economizaram, em média, 15% nos custos anuais de manutenção. Ou seja, além de proteger vidas, a tecnologia também preserva patrimônios e alivia os orçamentos — públicos e privados — por meio da prevenção inteligente.
Outro exemplo é Cingapura, onde a iniciativa Smart Nation integrou transporte, energia e governo digital. A cidade usa sensores para otimizar serviços, reduzindo custos operacionais e melhorando a qualidade de vida. Sistemas de transporte inteligente, por exemplo, reduziram o tempo médio de deslocamento e aumentaram a eficiência do uso da infraestrutura pública — tudo com governança enxuta e foco em dados e engenharia de ponta, sem inchar o Estado.
Barcelona instalou sensores em toda a cidade, otimizando o uso de água e energia. Gerando uma economia anual de US$ 58 milhões dos cofres públicos, sem aumentar impostos — apenas usando melhor os recursos já disponíveis conseguiram reduzir o déficit fiscal. Essa é a verdadeira reforma urbana: menos desperdício, mais eficiência e valorização da inovação privada.
A capital da Holanda, Amsterdã, é outro exemplo notável. A cidade implementou uma das plataformas mais completas de gestão urbana inteligente, a Amsterdam Smart City, que conecta cidadãos, empresas e governo em torno de projetos sustentáveis e baseados em dados. Sensores espalhados pela cidade monitoram o uso de energia, tráfego, qualidade do ar e ocupação de edifícios públicos, permitindo uma gestão adaptativa e em tempo real. O resultado foi uma redução de 15% no consumo energético em bairros monitorados e maior participação da população em decisões locais, fortalecendo a cidadania ativa sem dependência de expansão estatal.
Seul (Coreia do Sul) transformou-se em referência global ao adotar um modelo de cidade inteligente voltado à conectividade, automação e participação cidadã. Com o projeto “Smart Seoul 2030”, a cidade digitalizou todos os mais complexos serviços públicos — de saúde à mobilidade urbana — e implementou mais de 50 mil sensores para monitoramento ambiental, gestão de resíduos e controle de tráfego. Isso resultou em uma economia anual superior a US$ 120 milhões em custos operacionais, segundo o Seoul Institute, ao mesmo tempo em que aumentou a transparência e a eficiência administrativa.
Helsinque (Finlândia) adotou um modelo radical de transparência e uso ético de dados. A cidade criou a plataforma Helsinki Data Strategy, que disponibiliza dados públicos abertos e anonimizados para pesquisadores, startups e cidadãos. Com isso, a cidade se tornou um polo de inovação urbana, atraindo mais de 500 empresas de tecnologia nos últimos cinco anos e posicionando-se como uma referência em cidades com baixo custo público e alto retorno social através do empreendedorismo — tudo sem comprometer a privacidade da população. Essas cidades provam que eficiência não significa mais Estado, mas sim menos burocracia e mais inovação privada.
Com blockchain, inteligência artificial e automação, essas cidades reduzem papelada, cortam gastos, combatem a corrupção e entregam mais liberdade e resultados.
Assim sendo, como dizia o filósofo romano Sêneca: “a sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”. As cidades inteligentes materializam essa ideia: são ecossistemas onde a infraestrutura tecnológica, a proteção da privacidade e a liberdade convergem para criar um ambiente preparado para que oportunidades não apenas surjam — mas prosperem. Onde há preparo técnico, descentralização e respeito à autonomia individual, o mercado floresce naturalmente, e o acaso se transforma em progresso contínuo. Nesse novo urbanismo, não é o Estado que distribui a sorte — é a liberdade que a transforma em resultado.
Nesse cenário, o futuro da prosperidade urbana não será construído por Estados inchados, mas por cidades inteligentes, onde a tecnologia substitui a burocracia, a inovação privada lidera as soluções — como antecipado por Joseph Schumpeter — e a eficiência deixa de ser exceção para se tornar a regra estrutural. Os exemplos concretos ao redor do mundo demonstram que é possível reduzir impostos, cortar desperdícios, diminuir o Estado e até entregar serviços públicos ágeis e eficazes sem inflar mais a máquina estatal. Cidades que adotam a descentralização, a liberdade econômica e a governança baseada em dados estão cultivando ecossistemas férteis para o empreendedorismo, atraindo capital, acelerando a inovação e elevando a qualidade de vida de seus cidadãos. O Brasil não precisa recriar a roda — precisa apenas remover as amarras do passado e permitir que suas cidades abracem um futuro mais inteligente, mais eficiente e radicalmente mais livre. Permitindo, assim, não apenas viver no melhor tempo da história da humanidade até hoje, mas também no melhor local possível.