Cada vez mais pessoas estão criando novos negócios. Esse fenômeno tem se espalhado pelo mundo todo. Só no Brasil, de acordo com uma pesquisa feita pelo Global Entrepreneurship Monitor, 34% dos adultos têm uma empresa ou estão envolvidos na criação de um novo negócio. Há 10 anos esse cenário era bem diferente — apenas 23%. Mas existe uma questão comum à maioria desses empreendimentos: como durar?
Martin Reeves, sócio do Instituto BCG Henderson, especialista em pesquisa de ideias para negócios, acredita que o melhor caminho está na nossa própria biologia.
Em uma paletra do TED, ele explica que, atualmente, um dos principais problemas das empresas é que estão “morrendo” muito cedo. A probabilidade de um negócio não durar mais de cinco anos é de 32%. Assim, ele analisa os sistemas biológicos para responder uma única pergunta: o que fazem eles serem duradouros e resilientes? E a resposta está no nosso sistema imunológico.
De acordo com Reeves, as seis principais funções dele podem ser aplicadas nos negócios para aumentar sua durabilidade. São elas:
– Redundância: o nosso organismo cria vários tipos de células antes de realmente precisar, assim se protege contra o imprevisto.
– Diversidade: a produção de vários tipos de células diversifica o sistema, criando a possibilidade de se defender contra quase tudo.
– Design modular: a organização é feita de forma que, se um sistema falhe, outro consiga realizar a função.
– Poder de adaptação: o sistema consegue criar formas de se proteger de ameaças que nunca nem conheceu.
– Prudência: detecta e remove cada ameaça, além de lembrar de ameaças antigas.
– Enraizamento: o sistema não é isolado, está conectado com todos os outros sistemas do corpo humano.
Martin Reeves descobriu que essas características estavam presentes em negócios que tinham mais resistência — diferentemente das que duravam menos. Uma delas é a Fuji Film. Mesmo com as mudanças tecnológicas, a Fuji conseguiu se manter no mercado. O mesmo não valeu para a rival Kodak. Por quê? De acordo com Reeves, porque se adaptou, diversificou-se e teve prudência.
A empresa começou a investir em vários setores, como em cosméticos, biomateriais e em produtos farmacêuticos. Alguns falharam, outros deram certo, mas o CEO da empresa disse que a grande diferença é que eles “têm mais bolsos e gavetas que os concorrentes”.
Outro exemplo que Reeves oferece é o incêndio que atingiu a produção da única fornecedora de válvulas para freios da Toyota. A destruição foi enorme, mas a empresa conseguiu se recuperar em apenas cinco dias. Esse curto período só foi possível porque tinha uma dinâmica colaborativa com os fornecedores, assim demostrou que tinha um sistema modular, enraizamento e redundância.
A grande maioria das empresas não adotaria esse modelo. Martin Reeves explica que, se um produto fosse vendido com essas seis características, muitos classificariam como “ineficiente e complexo”, e ele concorda. Entretanto, a eficiência é boa apenas no curto prazo.
O motivo disso é que a forma de pensar um novo empreendimento é ainda muito mecânica e prática, sem levar em conta a dinâmica e a imprevisibilidade que traz a globalização. Você coloca objetivos, analisa problemas, constrói planos e aplica a eficiência no curto prazo.
Para Reeves, temos que adicionar o pensamento biológico ao mecânico. Em vez de controlar situações complexas, temos de pensar como e quando podemos moldá-las. A diferença entre essas duas formas é a mesma que jogar um bola – que vai apenas em uma direção – e soltar um pássaro – que é imprevisível.
Fonte: “Época negócios”.
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