Nesta entrevista ao Instituto Millenium, o economista e diretor-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) Adriano Pires fala sobre a atual situação da Petrobras, que segundo ele, é bem diferente da imagem da campanha institucional em comemoração aos 60 anos da empresa.
O especialista do Imil observa como o excesso de intervenção do governo, seja para controlar a inflação ou para eleger seus candidatos, vem comprometendo a empresa.
Pires apresenta ainda uma análise do setor de energia brasileiro, também prejudicado pelas interferências estatais. O economista reforça a importância de o país aproveitar a sua vantagem natural para se tornar mais competitivo. Confira!
Instituto Millenium: Em seu artigo “Estatal manipulada”, o senhor comentou que em outubro, quando a Petrobras completaria 60 anos, haveria “pouco ou quase nada a comemorar”. Passado o aniversário da empresa, essa situação se confirmou?
Adriano Pires: A Petrobras é uma empresa que, infelizmente, o governo do PT [Partido dos Trabalhadores] usou e abusou da maneira mais inapropriada possível. O governo usou-a para controlar a variável macroeconômica, a inflação e para tentar eleger presidente da República, governador e senador. Nesse processo, o governo – e o PT é muito bom nisso – manipulou a população. A Petrobras, desde que foi criada, na década de 1950, é uma espécie de ícone no Brasil. Assim como ninguém pode torcer contra a seleção brasileira de futebol, ninguém pode torcer contra a Petrobras.
Instituto Millenium: Qual é a situação atual da empresa?
Pires: A Petrobras é uma empresa destruída pelo PT. Em 2008, 2009, sua dívida era de R$ 94 bilhões e tinha relação entre endividamento e patrimônio líquido de 34%. Naquela ocasião, o governo decidiu fazer uma capitalização, porque a Petrobras investiria muito no pré-sal. Passados três anos, a dívida da Petrobras é de R$ 176 bilhões, ou seja, aumentou 215%. A relação entre endividamento e patrimônio líquido também aumentou, passando para 37%. A situação é essa após a empresa ter passado por capitalização que, há três anos, injetou R$ 45 bilhões em seu caixa.
Financeiramente, a Petrobras não tem como fazer frente aos seus investimentos, por isso se endividou tanto. A empresa bateu no teto do endividamento, está em vias de perder investimentos e, recentemente, agências de risco a rebaixaram. Hoje, aumentar preço do diesel não será suficiente para fechar o “buraco” da Petrobras. Enquanto isso, o governo continua manipulando o preço da gasolina, assim como o da energia elétrica, para varrer a inflação para debaixo do tapete e permanecer popular. Afinal de contas, em 2008, o governo também incentivou a compra de carro mil, então tem que ter gasolina barata.
O governo do PT, na realidade, transformou a empresa em uma PDVSA [Petróleos de Venezuela S.A], em uma Pemex [Petróleos Mexicanos], ao tratá-la como sendo 100% estatal. Mas a Petrobras tem capital aberto, e esse é mais um problema. Não há o menor respeito com o acionista minoritário, cujo dinheiro é usado para eleger candidato e controlar a inflação.
Instituto Millenium: A campanha institucional em comemoração aos 60 anos da Petrobras mostrava outra empresa.
Pires: Dentro dessa política nacionalista e populista do PT, os vídeos exibidos na televisão são os mesmos que vimos em 2008 e 2009, quando o ex-presidente Lula se autodenominou o descobridor do pré-sal para tentar eleger a presidente Dilma. Foi adotado um discurso nacionalista, quando sabemos que a situação da empresa é péssima. Dessa vez, o objetivo é tentar reeleger a presidente Dilma e tirar do foco os verdadeiros problemas que a Petrobras enfrenta hoje.
Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era quatro vezes maior do que hoje. Como a empresa pode ser tão desvalorizada com o petróleo a mais de US$ 100? A Petrobras tem reservas das maiores do mundo, por causa do pré-sal, além de produtos que crescem mais do que o PIB [Produto Interno Bruto]. Vê-se então que é muita incompetência, porque, em um cenário desses, destruir uma empresa como essa, é inacreditável.
Instituto Millenium: Em sua opinião, quais as perspectivas para o futuro da Petrobras?
Pires: É difícil reverter essa situação da empresa. Quem for eleito presidente, incluindo a presidente Dilma, se reeleita, terá um grande problema pela frente. Uma saída possível talvez seja uma nova capitalização, o que também pode ser muito ruim, por diluir ainda mais o acionista minoritário e estatizar mais a empresa.
O fato é que o PT privatizou a Petrobras em seu benefício. No governo do Fernando Henrique, o Reichstul [ex-presidente da Petrobras, Henri Phillipe Reichstul] teve a ideia de mudar o nome para Petrobrax, porque queria internacionalizá-la. Digo agora que o nome deveria ser PTbras, porque o PT tomou posse da Petrobras e a está destruindo, como fez com a Eletrobras. Na história do Brasil, essas duas empresas, as principais do setor de energia do país, nunca foram tão maltratadas.
Instituto Millenium: Aproveitando, qual é quadro do setor de energia no Brasil?
Pires: O setor elétrico, assim como o setor de petróleo, está completamente comprometido. E o diagnostico é sempre o mesmo: uma exagerada intervenção do estado nas empresas e no setor. No ano passado, a MP [medida provisória] 579, transformada em lei em janeiro deste ano, reduziu a tarifa de energia elétrica “na marra”, fez as empresas perderem valor de mercado e desorganizou o setor.
Para manter a tarifa mais barata para o consumidor final, fazer populismo e ganhar voto, o governo usa o dinheiro do Tesouro. O consumidor acha que paga barato, mas se esquece de que arca com a diferença como contribuinte.
Instituto Millenium: Há como reverter esse cenário?
Pires: O setor passa por um momento de total desorientação energética. Nossa energia é uma das mais caras do mundo e falta qualidade. Mas o mais difícil a gente tem: diversidade energética. Temos água, vento, sol, petróleo, gás, biomassa… Contudo, não há política pública apropriada para trabalhar isso. Sempre digo que a gente não consegue transformar uma vantagem que a natureza nos deu em uma vantagem econômica. O Estado, em vez de regular e fiscalizar, que é o seu papel, fica querendo regular, fiscalizar e investir, e faz tudo mal. O governo tem que entender que o setor privado empreende e o público, fiscaliza e regula. Cada um deve assumir o seu papel.
Senhor Adriano, quanto valia a Petrobras em Dezembro de 2002? quanto ela vale hoje?