Em duas ocasiões recentes, o Ministro da Educação Abraham Weintraub mencionou o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Numa delas falou de aumentar em 50 pontos as notas do Brasil no Pisa. Noutra, mencionou o Chile como um exemplo a imitar.
Vejamos o que aconteceu com o Chile no Pisa. Entre o ano de 2000 e 2009, o país aumentou sua nota no teste de Leitura em 40 pontos. Em Ciências, aumentou 32 pontos e em Matemática, 37. Praticamente não aumentou mais nada depois de 2009, exceto no teste de Leitura, em que ganhou mais 10 pontos até 2015. No mesmo período, os 9 outros países da América Latina que participam do Pisa aumentaram 23, 26 e 43 pontos respectivamente. Se descontarmos o aumento devido ao fator “ser país da América Latina”, o crescimento líquido do Chile foi de 17, 12 e -6 pontos respectivamente. Nada excepcional.
Vejamos pelo lado positivo: o impacto das reformas da educação ocorridas no Chile nas duas últimas décadas do século passado começou a ser captado pelo Pisa no ano de 2000. Os alunos que fizeram a prova de 2009 são os que iniciaram a escolaridade naquele ano, portanto se beneficiaram plenamente das reformas chilenas do século anterior.
Leia mais de João Batista Araújo e Oliveira
Ensino superior pago
As diretrizes de Weintraub no MEC
Universidades federais na berlinda
Depois de 2009, o aumento foi pífio – exceto os 10 pontos adicionais em Leitura. Ou seja, o grande impacto das reformas educativas do Chile parece ter ocorrido no século passado. O que ocorreu mais recentemente não teve – ou ainda não teve – impacto no Pisa. Tudo somado, o impacto líquido foi razoável, mas nada extraordinário. E, com seus acertos, erros e correções ao longo do tempo, foi tudo que o Chile conseguiu fazer.
Aumentar 50 pontos no Pisa é tarefa hercúlea, mesmo para quem está na rabeira das notas do exame. Haveria outros caminhos?
Num estudo interessante a respeito do impacto do professor, Erik Hanushek e seus colegas mostram que se todos os professores do Chile tivessem o nível cognitivo dos professores da Finlândia, esse simples fato poderia gerar um aumento de pouco mais de 60 pontos na Prova do Pisa. O nível cognitivo foi avaliado pelo desempenho dos futuros num teste internacional denominado PIAAC. Para conseguir aumentar 50 pontos no Pisa, o Chile teria de recrutar seus professores entre os 4% melhores alunos do ensino médio. Dadas as notas do Brasil no Pisa, possivelmente teríamos que recrutar nossos professores em outros países – para chegar ao nível mediano da Finlândia.
+ Ouça! Uma reforma liberal na educação
Esse raciocínio nos ajuda a pensar nos desafios que o Brasil tem para melhorar a educação. O Chile – país centralizado e relativamente pequeno, com ditadura nos anos iniciais da reforma educativa, muita continuidade e enorme capacidade de aprimorar suas políticas com base nos resultados (e apesar das contestações e reviravoltas, como no caso da Lei que institui o ensino superior gratuito) – conseguiu esse modesto aumento.
Para tornar mais clara a mensagem: aumentar o calibre dos professores – com novas políticas de recrutamento e carreiras atraentes – parece ser o caminho mais viável para estabelecer um sistema de ensino de qualidade. Esta deveria ser a prioridade das prioridades – mas este é um caminho lento, que, num país como o Brasil, possivelmente só seria viável a partir de experimentos seletivos e localizados. Mesmo porque, infelizmente, nosso país não dispõe de massa crítica de cor cinzenta.
Fonte: “Veja Online/Blog Educação em Evidência”, 10/05/2019