No ano 2000, Peter Knight, americano nascido na cidade industrial de Cleveland, em Ohio, completou um antigo sonho. Mudou-se para Copacabana, o bairro que conhecera em finais dos anos 1960, quando se apaixonou por uma brasileira. Já passado dos 70 anos, quando pode, Peter amanhece, desce ao mar com o pranchão, remo à mão, para o stand up paddle. Hoje às 19h, na Livraria Blooks de Botafogo, no Espaço Itaú de Cinema, ele lançará um livro que representa outro sonho. Se chama “A internet no Brasil”. É uma história das origens da rede por aqui, mas vai além. É também um projeto para fazer do Brasil uma Coreia do Sul, uma Cingapura, uma Finlândia.
Nos anos 1990, o Brasil começou bem. Já tinha acesso à rede antes de ela ganhar as capas das revistas. “Pessoas como Tadao Takahashi, Michael Stanton, Demi Getschko e Carlos Afonso foram fundamentais”, diz Peter. São alguns dos homens que, atentos ao avanço da tecnologia no exterior, lutaram para implementar a grande rede no Brasil. Quando a internet explodiu no mundo, a base já funcionava, e os primeiros brasileiros tiveram por onde acessar. Naquele momento, o governo entrou para incentivar o desenvolvimento, projeto ancorado na Casa Civil. Aí veio o apagão, que monopolizou as atenções. A internet foi, então, abandonada.
A internet é importante, na visão de Knight, por dois motivos. O primeiro é básico: quando acesso à rede é fácil, barato e rápido, todos os custos começam a cair. Os processos ficam mais ágeis. A economia ganha eficiência. Novas indústrias surgem, outras melhoram, o PIB sobe. O raciocínio é simples que dói de tão óbvio. O segundo é complementar. O Brasil é um país agradável e bonito. Com crescimento econômico e infraestrutura tecnológica de ponta, atrai o que os americanos chamam de matéria cinza. Massa cinzenta: cérebros. Gente inteligente. Ter internet de ponta, acima da média mundial, não é um luxo. É o ponto de partida para o avanço.
Não acontece porque o governo, na prática, decidiu que não é prioridade nem, tampouco, estratégico. O setor de telecomunicações sofre uma das cargas tributárias mais altas do país. Em média (depende do estado), na conta de banda larga ou celular que pagamos, 43% são dinheiro para o governo. Há razões históricas. Noutros tempos, as telefônicas eram monopólios que levantavam mensalmente uma quantidade gigante de dinheiro. Para arrecadar tributos, do ponto de vista do governo, era mais simples sobretaxar setores assim do que sair arrecadando valores pequenos de negócios miúdos. No tempo da nota fiscal eletrônica, o problema prático da arrecadação não existe mais. E, no entanto, uma das indústrias mais estratégicas do país é justamente a que jamais recebe incentivos fiscais.
Não basta repensar por completo a política tarifária para um setor tão estratégico. Seria preciso, também, incentivar a instalação de uma grande infovia de fibra ótica Brasil afora. Lançando mão de subsídios em áreas remotas, oferecendo outras facilidades nos centros urbanos. Para Knight, transformar-se na primeira cidade inteligente da América Latina é uma vocação natural do Rio. Cidade agradável, bonita, se desse um salto de infraestrutura atrairia cérebros mundo afora como nunca. “Quem não quer morar no Rio?”, ele pergunta.
O economista, que trabalhou no Banco Mundial e fez projetos para o FMI noutros tempos, casou-se com aquela brasileira dos anos 60. Estudou em Stanford, coração do Vale do Silício. E seu encanto é pelo Brasil. Seu livro, um plano de ação para o país, foi incentivado pelo Instituto Fernand Brandel de Economia Mundial, com sede em São Paulo. Knight é um dos diretores. On-line, pode ser encontrado no site da Livraria Cultura.
Fonte: O Globo.
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