Fevereiro de 2008 terminou com a moeda norte-americana valendo R$ 1,70, a menor cotação desde maio de 1999. As estimativas do mercado indicavam então que o dólar deveria se estabilizar em um valor entre R$ 1,60 e R$ 1,70.
Na época, eu escrevia que a conjuntura econômica tornava o país particularmente atrativo para investimentos estrangeiros diretos e especulativos.
Tínhamos uma rara combinação de lucratividade excessiva para os padrões de primeiro mundo e desempenhos financeiro, político, regulatório e jurídico inusitados para economias de países emergentes. E, acima de tudo, contávamos com um mercado interno voraz para o consumo.
De lá para cá, o crescimento foi robusto, a ponto de fazer da ameaça de volta da inflação o mais sério risco que nos afeta no momento. Com um ambiente positivo, o dólar continua a derreter, apesar das intervenções do Banco Central (BC) desde 2007.
Nossas reservas estão próximas de US$ 330 bilhões, número antes impensável para nós, que vivemos décadas de penúria.
A essa altura, apesar do empenho do BC em conter a valorização do real, o cenário que se desenha é o de valorização de nossa moeda. Por conta dos desempenhos financeiro, político, regulatório e jurídico, já mencionados, e do mercado interno. E ainda pelo fato de o país ter em carteira mais de R$ 1 trilhão em investimentos para os próximos anos.
Isso posto, o que fazer para evitar os efeitos colaterais do acúmulo de reservas, em especial, a desindustrialização e a dramática perda de competitividade de nossas exportações?
Ninguém tem uma resposta precisa, mas alguns aspectos devem ser considerados. Acredito que as reservas elevadas são benéficas para o Brasil. Mesmo que tenham, aparentemente, custo elevado.
Os críticos do custo das reservas não levam em conta devidamente o fato inconteste de que tê-las representa uma avaliação de risco mais baixo e, em consequência, custos menores de captação de recursos no exterior e maior atratividade para o investimento direto e especulativo no país.
Posto que ter reservas elevadas é bom para a segurança financeira do país, nosso desafio atual é saber lidar adequadamente com os efeitos colaterais dessa situação e com a real possibilidade de que elas aumentem ainda mais.
Vamos por partes. Para recuperar a competitividade de nossas exportações devemos reduzir o chamado – e velho conhecido – custo Brasil, que está presente na carga tributária, na infraestrutura e nos processos burocráticos. Uma ação emergencial sobre tais aspectos poderia resultar em ganhos consideráveis de competitividade.
Outro esforço emergencial é agregar valor às exportações. A marca Brasil deve ser mais bem explorada pela evidência de que existe uma excepcional boa vontade externa em relação a nosso país.
Com menor custo de exportação e maior valorização da marca Brasil, poderemos exportar mais e melhor. E a lucratividade dos exportadores não decorrerá apenas da existência de uma moeda artificialmente fraca. O governo e a sociedade deveriam dirigir um olhar especial para esses aspectos.
Fonte: Brasil Econômico, 03/05/2011
O Custo Brasil não faz parte do vocabulário dos integrantes do governo, nos três níveis. Por quê? Simples: Nenhum socialista produziu, em sua vida, qualquer tipo de bens ou serviços, ou foi dono de empresa ou autônomo; sempre foi político, sindicalista, estudante agitador ou simplesmente viveu às custas dos outros, como Marx. Logo, nunca sentiu na pele o peso dos impostos ou o enfado e arrogância dos agentes e funcionários públicos encarregados de gerir a máquina estatal.