Enquanto no Brasil voltamos a debater temas antigos como inflação de dois dígitos, os mercados mundiais são sacudidos por volatilidade proveniente da China, principalmente nos mercados de câmbio e de ações.
A Bolsa de Xangai tem pouca participação estrangeira, mas as repercussões da política cambial do país são globais. Diante da alta do dólar no mundo, o Banco Central chinês vem ajustando o valor da moeda chinesa para manter a competitividade das exportações, gerando preocupações e críticas.
O que está em curso na China, porém, vai além do ajuste dos mercados. A probabilidade de o país desvalorizar a moeda além dos parâmetros de valorização do dólar existe, mas não é alta em função do risco de detonar corrida cambial e fuga de capitais, o que poderia agudizar os desequilíbrios na sua economia.
A China vive o fim de um ciclo de desenvolvimento puxado por exportações de produtos industriais fundamentadas em mão de obra barata e grande capacidade de investimento e poupança. Essas características em larga medida se mantêm, e a China seguirá uma economia formidável. O problema, que só agora fica claro, é como chegar a um equilíbrio econômico diante das distorções provocadas pelo direcionamento estatal.
Enquanto o mundo crescia a taxas aceleradas, o país conseguiu manter seu modelo exportador. Com a crise, esse equilíbrio se rompeu e a China adotou políticas econômicas contracíclicas via investimentos maciços. O passo seguinte foi estimular o aumento gradual do consumo interno.
Nesse novo modelo, o bom funcionamento dos mercados chineses é fundamental, e aí começam os problemas. A alta intervenção estatal, por definição, distorce os mercados. Na China, isso começou pelo excesso de investimentos em setores determinados pelo governo, gerando grandes distorções na alocação de capitais, com investimentos exagerados em algumas áreas e criação de gigantesca bolha de crédito, principalmente em províncias altamente endividadas.
A capacidade da China de lidar com esses desequilíbrios é uma incógnita. Eles ainda vão gerar muita turbulência e riscos ao mundo. No Brasil, não só porque a China é nosso maior parceiro comercial, mas, principalmente, porque ela impacta os fluxos internacionais de capitais, afetando países importadores de capital como o nosso.
Em resumo, a China vive momento complicado de transição gradual de economia liderada pelo Estado para uma economia de mercado, um processo inevitável e que foi exitoso em economias menores como Cingapura e Taiwan.
Agora a China faz esse experimento de passagem em escala gigantesca, exibindo ao mundo e ao Brasil lições importantes sobre os riscos da intervenção estatal na economia.
Fonte: Folha de S. Paulo, 10/01/2016
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