Aos 36 anos, o mineiro Samir Iasbeck talvez seja o brasileiro que mais participou de programas de corporate venture. Nos últimos seis anos, o Qranio, plataforma de mobile learning fundada por ele em 2011, passou pelos ciclos de aceleração da Telefônica (Wayra), da PepsiCo, do Facebook (FbStart), do Google (Launchpad) e do Bradesco (InovaBra). Nenhuma deles transformou sua startup em um unicórnio. Mas, segundo Iasbeck, trouxeram novas fontes de receita, produtos e, acima de tudo, oportunidades de crescimento. A seguir, ele conta o que aprendeu em suas relações com grandes empresas.
Pequenas Empresas & Grandes Negócios – Como começou a relação entre o Qranio e as grandes empresas?
Samir Iasbeck – Em 2011, um amigo meu, que era gerente da Vivo, me mandou o link com as inscrições para a edição da Wayra [aceleradora da Telefônica]. Ficamos entre os 30 finalistas, mas não fomos escolhidos. Então comecei a investir na expansão da empresa por conta própria. Contratei umas quinze pessoas, de perfil bastante júnior, e toquei a operação. Em três meses já tinha multiplicado os meus índices de crescimento. Enquanto isso, muitos dos selecionados ainda estavam na fase do PowerPoint. Depois de um tempo, o pessoal da Telefônica me chamou para participar de uma competição na Campus Party. A maioria dos participantes escolheu passar o tempo livre tomando uísque no camarote do evento. Aproveitei a oportunidade para apresentar o produto para as pessoas que estavam no local. Depois de ganhar a competição, fui aprovado para participar da terceira turma da aceleradora.
Veja também:
Startup investe em eficiência no transporte de mercadorias
App conta clássicos da literatura para o público juvenil
Conheça a Grão Direto, startup que digitaliza o processo de compra e venda de grãos
PEGN – Quais foram os resultados gerados pelos programas?
Samir Iasbeck – Cada aceleradora tem uma proposta diferente. O programa do Facebook, por exemplo, é baseado no uso de tecnologias ligadas à plataforma. Fomos eleitos como o melhor aplicativo da América Latina em 2015. Foi super legal, deu muita visibilidade. Mas, de maneira geral, a proposta é bastante voltada para o relacionamento com o Facebook. Existem outras iniciativas que são mais focadas em geração de negócios. É o caso da Wayra e dos programas organizados pela ACE. O Google, por sua vez oferece dinheiro e a oportunidade de melhorar produtos de tecnologia. Pessoalmente, prefiro o modelo adotado pelo InovaBra. Eles não pedem equity na fase inicial e oferecem a possibilidade de incluir um grande cliente no seu portfólio. É preciso descobrir a proposta que faz mais sentido para cada ciclo da startup. O programa da Wayra não faria muito sentido para a fase atual do Qranio. Mas foi importante para nos colocar no mapa e organizar a empresa. Todo o programa de corporate venture traz um aprendizado. O problema é quando esse aprendizado custa caro.
PEGN – Como isso pode acontecer?
Samir Iasbeck – É preciso ter uma análise particularmente criteriosa com iniciativas que envolvem contrapartidas de equity. Algumas aceleradoras pedem participações de 25%, 30%. Considero o valor absurdo. Assim como em qualquer tipo de investimento, a melhor maneira de evitar esse problema é esperar o máximo antes de recorrer a esse tipo de recurso. Quando mais early-stage for o negócio, maiores serão as exigências.
PEGN – A participação em tantas iniciativas não tirou o foco do negócio?
Samir Iasbeck – Esse risco sempre existe. Fundar uma startup envolve estar completamente focado no negócio. Aí você está imerso na operação e surge a convocação para participar de uma mentoria em outra cidade. É preciso analisar os resultados concretos que o programa pode trazer. Vejo muitos fundadores tomando decisões baseadas no ego, apenas pelo prestígio de estar próximo de uma grande empresa. Então procuro me aproximar de iniciativas que façam sentido para o nosso momento. Quando fomos aprovados para o InovaBra, por exemplo, estávamos com uma solução para o público corporativo. A gente queria costurar esse produto na camisa do Bradesco. Além da referência no mercado, uma venda para eles equivaleria ao valor de uma rodada de investimentos Series A. Já me inscrevi no programa com isso na cabeça.
+ De presidente de multinacional a empreendedor
PEGN – Qual é o seu conselho para startups que participam de programas organizados por grandes empresas?
Samir Iasbeck – Não acho que seja necessariamente algo que uma empresa deva fazer. Aliás, o ideal é que você cresça de maneira orgânica e não precise passar por nenhum deles. Mas foi algo que fez sentido para a nossa trajetória. Nos últimos anos, surgiram várias empresas oferecendo esses programas. Existem oportunidades para empresas de diversos perfis. Mas é importante não se guiar pelo ego. Em vez disso, faça uma matriz de decisão com base no que a empresa vai te oferecer. Coworking? Canais de vendas? Investimento? Coloque tudo no papel e veja se as contrapartidas valem a pena.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”