Em tempos de polarização e desgaste das instituições, uma área tem passado quase incólume ao discurso de ódio que prevalece nas comunicações entre grupos rivais: a educação. Sim, há intensos debates, e visões divergentes não param de aparecer, mas há um esboço de agenda comum que tende a unificar os que se colocam em campos opostos em outros assuntos.
A urgência da aprovação da Base Nacional Comum Curricular, prevista na legislação e debatida na administração de vários ministros, é certamente um dos acordos possíveis, mesmo que seu conteúdo comporte pontos de divergência.
Outro fato que vem ganhando força e unindo especialistas e gestores vinculados a diferentes visões no espectro político é a disseminação de espaços de debate sobre políticas educacionais que nos façam avançar rumo ao século 21.
O Brasil teve certamente progressos em educação, muitos associados a acesso de mais crianças e jovens às escolas e mesmo à melhoria da aprendizagem, como mostram dados da Prova Brasil referentes ao 5º e até ao 9º ano.
Acertou ao tornar a pré-escola obrigatória para crianças de quatro e cinco anos, podendo assim, diminuir as desigualdades de origem socioeconômicas no desempenho escolar futuro.
Mas ainda temos longo caminho a percorrer e a ousadia do PNE, o Plano Nacional de Educação, dá algumas pistas do que deve ser feito. A Base foi um primeiro passo, mas governos subnacionais devem se empenhar em melhorar a qualidade do ensino, focar a aprendizagem dos alunos e assegurar equidade, de forma a que possamos ter altas expectativas para todos os alunos.
Embora governos sejam atores importantes, o debate e a proposição de caminhos deve envolver toda a sociedade. É por isso que me parece particularmente salutar que a Associação Comercial do Rio de Janeiro tenha criado uma Comissão de Educação para propor uma política educacional à altura do Estado do Rio, a ser apresentada a todos os candidatos a governador.
Essa comissão tem apenas 20 integrantes, para torná-la mais ágil, e, entre eles, quatro ex-ministros (dois deles ligados ao governo Dilma e dois ao governo Fernando Henrique Cardoso), pesquisadores de educação, ex-secretários, professores e empreendedores na área. As discussões já se iniciaram, prometendo um trabalho rico, que pode gerar propostas que devolvam ao Rio seu papel de centro de inteligência que o Estado teve no passado, agora em novas bases, mais adequadas ao novo século em que vivemos.
Outros espaços como esse estão surgindo pelo país afora, buscando preparar a nova geração para serem jovens autônomos, solidários e competentes. O Brasil merece!
Fonte: “Folha de S. Paulo”
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