Com a “delação do fim do mundo” pela Odebrecht ainda em andamento, é anunciada outra “delação do fim do mundo” pela Camargo Corrêa. Seriam 40 funcionários delatando propinas pagas a 200 políticos.
Há corrupção sistêmica na administração pública.
Piratas privados pagam propinas a criaturas do pântano político e a funcionários públicos corruptos, comprando vantagens para suas empresas.
Esse tráfico de influência está sempre em busca de favorecimentos e da apropriação indébita de recursos públicos. Pagamentos por legislação favorável sob encomenda. Superfaturamento nas obras públicas. Financiamento subsidiado nos bancos públicos. Privilégios na redução de impostos e isenções fiscais. Preferência para fornecimento de serviços a empresas estatais e a órgãos de administração pública.
Os corruptos destroem muito mais do que escolas, hospitais e outros serviços essenciais não prestados pelos recursos que desviaram. Destroem também a crença da população nas instituições das modernas democracias liberais.
Se as principais lideranças empresariais e políticas se ocupam de negócios escusos e práticas não republicanas, a democracia e os mercados perdem a simbologia da representatividade e do mérito.
A classe política não representa mais o povo, e sim seus próprios interesses. E os empresários não criam mais riqueza, apenas dela se apropriam em negociatas com o poder político.
Para a opinião pública, a riqueza do empresário é então dissociada do atendimento das necessidades dos consumidores, pois reflete quanto conseguiu comprar de influência junto às diversas instâncias governamentais.
E o sucesso do político é também dissociado do atendimento das necessidades dos eleitores, pois reflete quanto conseguiu desviar de recursos públicos para favorecimentos ilícitos a interesses privados e suas campanhas eleitorais.
O político que enriqueceu na vida pública e o empresário que tem muito poder político são aberrações de um capitalismo de Estado que degenerou para um capitalismo de quadrilha.
Merecedores do respeito e da admiração popular, o republicano Reagan e o democrata Obama não enriqueceram na política, enquanto Bill Gates e Steve Jobs devem seu sucesso a centenas de milhões de consumidores. É a força das instituições: democracia e mercados.
Fonte: O Globo, 16/01/2017.
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