Os EUA e depois o Japão adotaram estímulos monetários e forte aumento da liquidez para combater a crise econômica, mas indicadores recentes apontam resultados diferentes para cada país.
Os EUA aplicaram agressiva injeção de liquidez na economia em meio à contenção de gastos públicos imposta pelo Congresso após a dose de estímulos fiscais adotados anteriormente. Apesar da contração fiscal, a economia americana reagiu e cresce quase 3% ao ano –taxa alta numa economia imensa, rica e madura.
O Japão aplicou política monetária inspirada na experiência americana conjugada com aumento dos gastos públicos. Os resultados, porém, não foram satisfatórios. Depois de repique no crescimento, o país mostra sinais recessivos. E, com gasto público no limite, Tóquio já planeja aumento de impostos para reequilibrar as contas, o que complica mais a equação. Avaliações, ainda preliminares, sobre diferentes respostas aos estímulos monetários trazem conclusões importantes.
Nos EUA, o Fed (BC) agiu no momento certo. Comprou papéis do Tesouro e também injetou recursos no setor mais problemático ao comprar títulos imobiliários. Com isso, reduziu custos financeiros numa economia aberta, dinâmica e competitiva que já investia em produtividade. Os preços dos ativos subiram, especialmente ações e imóveis, o que melhorou a situação das famílias e contribuiu para a retomada da confiança, dos investimentos e dos empregos.
No Japão, os estímulos enfrentaram economia estagnada por muito tempo, com mercado de trabalho rígido e sistema financeiro concentrado. Nesse quadro, tiveram efeito muito mais limitado que nos EUA. Isso nos ensina que na economia, como na medicina, o remédio tem que ser adequado à doença. Não existem prescrições universais. Formuladores de política econômica adotam muitas vezes excelentes soluções, só que para circunstâncias diferentes.
Os EUA tinham problema claro causado por crise de crédito com recuo do emprego, da renda e do valor dos ativos, o que gerou perdas patrimoniais relevantes. A injeção brutal de liquidez visou aumentar a demanda via redução do custo de crédito e aumento patrimonial. Já no Japão o problema é estrutural. O país precisa de reformas fundamentais que dinamizem o mercado de trabalho, estimulem o mercado de capitais e o empreendedorismo.
A lição nisso é que na economia, como na medicina, o diagnóstico correto é fundamental para que, a partir dele, se adotem medidas adequadas ao momento. Além disso, quanto melhores as características estruturais da economia, mais eficazes as medidas anticíclicas. Quando se contrai uma doença, o tratamento funciona melhor se o organismo estiver em boa forma.
Fonte: Folha de S.Paulo, 23/11/2014.
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