No início do primeiro mandato da presidente Dilma, houve sinais de maior arejamento na política externa. Direitos humanos, a relação com o Irã e a aproximação com os EUA eram as principais indicações nesse sentido.
A visita do presidente Obama ao Brasil, em março de 2011, pode ser considerada como um marco nas relações Brasil-EUA pelas perspectivas de uma relação fluida e mutuamente proveitosa abertas no médio e longo prazo. O comunicado conjunto divulgado ao final da visita apresentava um roteiro para uma nova parceria global e bilateral. Nesse encontro, foram lançadas as bases para a evolução das relações nos anos seguintes.
Os problemas políticos gerados pela espionagem da NSA no governo e em companhias brasileiras, no entanto, congelaram os avanços conceituais e práticos aprovados em 2011.
[su_quote]Apesar da relação bilateral congelada, alguns acordos foram negociados ao longo dos últimos anos e ficaram parados à espera da normalização das relações bilaterais[/su_quote]
Confirmada a visita presidencial a Washington para fins de junho, o governo brasileiro tem agora a oportunidade de poder retomar a agenda estabelecida pelo documento final Dilma-Obama. Apesar da relação bilateral congelada, alguns acordos foram negociados ao longo dos últimos anos e ficaram parados à espera da normalização das relações bilaterais, como o acordo de previdência social e o acordo sobre convergência regulatória e de facilitação de comércio, além dos acordos de cooperação na área da Defesa, o de segurança de informações militares (GSOMIA) e o de céus abertos, até agora não aprovados pelo Congresso.
Talvez a iniciativa mais importante seja o anúncio da intenção de começar as negociações do acordo de salvaguarda tecnológica, como mencionado no comunicado de 2011, mas que ficou paralisado nos últimos anos. Esse acordo permitiria ao governo brasileiro levar adiante o seu programa espacial, reconstruindo a Base de Alcântara, com a colaboração de empresas dos EUA.
O foco da relação Brasil-EUA é basicamente econômico-comercial. Nessa área, a presidente Dilma poderia reafirmar seu comprometimento com o plano de ajuste econômico em curso.
Na área política e diplomática, a possibilidade de encontros regulares em nível presidencial, como previsto na viagem de Lula aos EUA em 2003, e nunca efetivado, poderia facilitar o entendimento entre o Brasil e os EUA no encaminhamento de questões pendentes na América do Sul e agora na aproximação dos EUA com Cuba. Nos organismos internacionais, políticos, financeiros e comerciais, em que o Brasil mantém uma posição de prestígio e influência, apesar de ter abaixado sua voz em algumas áreas, o entendimento poderá ser proveitoso para os dois lados. As negociações climáticas para renovação do Protocolo de Kyoto, em dezembro próximo, são claramente uma das prioridades.
Apesar das dificuldades por que passa o país no momento, seria importante que durante a visita aos EUA o governo Dilma mencionasse o interesse do Brasil em ser tratado de maneira diferenciada pelo governo de Washington e recebesse o mesmo tratamento de Coreia, Índia e Turquia para possibilitar às empresas brasileiras e americanas o acesso a tecnologias sensíveis na cooperação bilateral.
Chegou o momento de um novo normal nas relações do Brasil com os EUA.
Fonte: O Globo, 26/5/2015
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