Numa hora como esta, todo esforço deve ser feito para facilitar deserções ao regime. O establishment inteiro está sem opções e pode ruir como um castelo de cartas se levar o empurrão certo. Porém, o que está acontecendo no Japão com o diplomata desertor iraniano Abolfazi Eslami não inspira confiança, uma vez que ele e seus filhos podem ser deportados para a República Islâmica pelas autoridades japonesas.
Abolfazl Eslami entrou para o Ministério de Relações Exteriores do Irã em 1986, mas depois do assassinato da repórter fotográfica Zahra Kazemi, canadense nascida no Irã, ele decidiu renunciar e passou a encorajar seus colegas descontentes a fazer o mesmo. Como ele era do conselho da embaixada iraniana em Tóquio, e não era possível contatar embaixadas ocidentais no Irã, Eslami decidiu deixar o Irã e ir para Tóquio.
Em janeiro de 2006, ele chegou em Tóquio. Disseram-lhe que como o Japão é membro da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), ele poderia pedir asilo lá. Enquanto ele esperava que a ACNUR completasse seu processo, o regime iraniano rastreou seu paradeiro, e primeiro tentou atraí-lo de volta com propinas e promessas, e quando isso não funcionou, as táticas passaram a ser assédio físico e ameaças, e Eslami teve de se mudar com a família para fora de Tóquio.
Com o início do Movimento Verde no Irã, Eslami se sentiu encorajado e, junto com seus dois filhos, participou das manifestações em frente à embaixada iraniana em Tóquio. No dia 16 de maio deste ano, sua casa foi invadida por sete policiais japoneses, após uma queixa feita por Abbas Eraghchi, o embaixador da RII em Tóquio. A polícia japonesa queria prender seus dois filhos, que teriam jogado tinta verde nas paredes da embaixada.
Eslami e seus filhos foram levados a uma delegacia e interrogados por horas. Eslami explicou que ele e seus filhos estavam protestando contra a crueldade do regime iraniano, mas a polícia japonesa estava mais interessada no fato de que jogar tinta em um prédio público é um ato criminoso com pena de no máximo 3 anos de prisão, multa de 300.000 Yens e pagamento dos custos de limpeza. Pior: Eslami ouviu que seus filhos estavam sob risco de serem deportados de volta ao Irã depois que seus vistos de estudante vencessem. Eslami explicou o que aconteceria com eles se fossem deportados para o Irã, mas a polícia japonesa não foi solidária e disse: “Se prisão e tortura são o castigo por se opor ao governo do Irã, então seus filhos devem obedecer à lei iraniana.” A polícia japonesa se prontificou a mostrar um pouco de flexibilidade, contudo, se Abolfazi Eslami e seus filhos pedissem perdão ao embaixador iraniano em Tóquio, ele talvez pudesse ser persuadido a retirar a acusação.
Não é uma história exatamente inspiradora para encorajar outros oficiais do regime a desertarem. Imaginem se um diplomata soviético desertasse durante a Guerra Fria. Tenho certeza de que ele não teria sido tratado dessa forma.
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
Tradução: Anna Lim (annixvds@gmail.com)
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