Nada mais peculiar às elites privilegiadas do que este escândalo que parentes e apoiadores petistas da trinca de líderes condenados do mensalão fazem diante da dura realidade de suas prisões. Tudo indica que não acreditavam que o desfecho ocorresse um dia, confiantes nas manobras protelatórias que sempre deram certo para os ricos e poderosos escaparem do cumprimento das penas atrás das grades.
Corno sempre, a elite encontra caminhos especiais, que existem só para elas, para amenizar seus pesares. Fingir-se de preso político é uma maneira de escamotear a verdade, continuar vivendo uma fantasia que há muito já foi rasgada nos duros embates da realidade política. Nem o PT é um partido revolucionário, nem seus líderes estão atrás das grades por questões políticas. Se fossem realmente presos políticos, quais seriam seus algozes no governo que dirigem há 11 anos?
Seriam dissidentes políticos acusados injustamente pelo grupo momentaneamente no poder, como ocorre muitas vezes na China ou em Cuba? Lula e Dilma estariam então por trás das transgressões de que acusam o Supremo tribunal Federal durante o julgamento e agora, na fase das execuções penais. É verdade que a presidente evita falar em público sobre o caso, para não se contaminar eleitoralmente, mas isso não chega a ser prova de que gostaria de ver seus “companheiros” atrás das grades.
E Lula, que promete sempre revelar verdades desconhecidas sobre o mensalão, e essa hora nunca chega? “Estamos juntos”, disse ele a Dirceu, numa solidariedade que exagera na retórica, deixando margem a que se considere que ele se sente metaforicamente preso, mas continua tomando banho quente. O movimento político que o PT promove para desmoralizar o presidente do Supremo tribunal Federal e, em consequência, todo o processo que levou para a prisão os mensaleiros de muito deixou de ser uma mera reação natural de perdedores.
A intenção política é desautorizar o STF. Os privilégios defendidos para a trinca de condenados – dos demais presos no mesmo processo, não se sabe de um protesto sequer – já se mostram abusivos nestes primeiros dias. Enquanto mulheres de presos do Complexo da Papuda acampam de madrugada para pegar uma senha que lhes permita visitar os parentes presos, amigos e parentes dos líderes petistas entram e saem do presídio mesmo sem ser dia de visita.
Mesmo a situação de José Genoino, que deve ser resolvida com a decretação de prisão domiciliar devido aos cuidados especiais de que necessita, não deixa de ser uma regalia, já que devem existir centenas, se não milhares, de presos na mesma situação de saúde frágil que não encontram o caminho da prisão domiciliar, ou nem mesmo têm domicílio.
Como erros não podem justificar outros, conceda-se a Genoino o direito que é negado a muitos outros presos. E, por falar em privilégios da elite, mais uma vez as condições precárias de nossas penitenciárias são motivo de críticas de autoridades e justificativas para os protestos, e até mesmo fuga. Do banho com água fria até a condição da comida, de tudo se reclama, como se apenas agora estivéssemos tomando ciência dessas precariedades e até desumanidades que ocorrem nas cadeias do país.
No transcorrer do julgamento do mensalão, quando ficava clara a possibilidade de os mensaleiros serem condenados à prisão, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que preferiria morrer a ter que passar muito tempo nas cadeias “medievais” brasileiras. Ontem, foi o Ministro Marco Aurélio Meio, do STF quem afirmou que é preciso “compreender a angústia de quem está condenado”.
Para ele, referindo-se ao petista Henrique Pizzolato, é licito “à pessoa tentar escapar, principalmente conhecendo as condições desumanas das nossas penitenciárias”. É patético ver a ação de petistas que um dia em 2005 subiram à tribuna da Câmara chorando de vergonha ao verem confirmadas as denúncias do mensalão e, hoje, voltam à mesma tribuna, a exemplo do que fez o deputado José Guimarães, irmão de Genoino, para simplesmente tentar negar a ocorrência de qualquer crime no episódio do mensalão.
Logo ele, que teve um assessor direto preso com dólares escondidos na cueca, no que ficou como a esdrúxula imagem marcante da comprovação dos desmandos que foram feitos em nome de um projeto político.
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