O PSDB — que emerge das urnas como o principal partido de oposição — está diante de um dilema. Ou é refundado ou tenderá a perder relevância na cena política nacional, inclusive pela possibilidade de criação de um novo partido, que dividiria ainda mais a oposição. A refundação do PSDB passa pela definição de sua estratégia de médio e longo prazo. A falta de estruturação de suas bases e de seus quadros para a formação de militância, consequência de uma organização partidária deficiente, demandará liderança e recursos para ser corrigida.
A inexistência de uma oposição crítica, que fiscalizasse as ações do governo e cobrasse os equívocos éticos e políticos foi um dos fatores mais importantes para o alto nível de popularidade do presidente Lula, decisivo na eleição da candidata do PT.
A simples oposição praticada no Congresso não teve repercussão pública, e o resultado da eleição veio a provar a atitude equivocada do PSDB em relação ao governo.
Para enfrentar a profunda transformação na vida política brasileira, com a emergência de uma crescente classe média que quis preservar seus ganhos, mas tem expectativas ampliadas, o PSDB deverá ter uma visão clara de sua plataforma e de seu ideário, a partir dos quais iria tentar ganhar o apoio das ruas do Brasil inteiro e não apenas de São Paulo e dos grandes centros. A reformulação passa também pela renovação de suas lideranças nos quatro cantos do país.
O PSDB tem uma história, partidária e de governo, que deve ser contada e valorizada (não escondida) e tem uma luta de oposição que tem de ser agora retomada. O PSDB terá tempo para ampliar seus quadros, definir o que queremos para o Brasil nas próximas décadas e buscar clareza em seus posicionamentos em relação ao novo governo.
A oposição — através dos partidos e não apenas de suas lideranças individuais — tem de se organizar para ser efetiva, apoiando as iniciativas consideradas adequadas e criticando as percebidas como contrárias ao interesse nacional. Mais do que nunca é necessária uma oposição coesa para fortalecer a democracia, as instituições e os direitos de cidadania.
O pronunciamento inicial da presidente eleita foi positivo quando assinalou compromissos democráticos e de avanços sociais e políticos através da negociação pluripartidária. Seu gesto de estender a mão à oposição deveria ser respondido, até para testar a efetiva vontade de negociação.
Colocando os interesses do Brasil acima das divergências pessoais e partidárias, o PSDB deveria aceitar esse desafio e propor ao novo governo, em seu primeiro ato de oposição, uma agenda mínima que vem sendo adiada há mais de quinze anos para ser aprovada nos primeiros cem dias de governo. As primeiras medidas a serem anunciadas pelo novo governo indicarão se algumas propostas controvertidas e divisivas do programa do PT serão ou não postas em marcha.
Se efetivadas, ai então se justificaria a abertura de trincheiras.
A inexistência, nos últimos oito anos, de uma estratégia coerente de oposição aconselha a adoção de uma inovação na política brasileira. Emprestando do sistema inglês uma prática que pode tornar o debate civilizado e bem fundamentado, o PSDB deveria acompanhar de perto as ações do governo federal. A partir de janeiro de 2011, deveria ser instituído o sistema de “shadow cabinet”, isto é, um governo informal paralelo que fiscalizaria os atos mais importantes do futuro governo em alguns setores como economia, políticas sociais, meio ambiente, direitos humanos, agricultura, comércio exterior e política externa. Não se trata de fazer oposição a tudo, mas acompanhar no dia a dia as medidas do novo governo para permitir manifestação em bases técnicas sobre suas viabilidade e oportunidade, a começar pela proposta de volta da CPMF.
Como resultado dos sucessos dos dois últimos governos, o Brasil terá de enfrentar, nos próximos anos, novos desafios internos e externos. Os eleitores definiram quem vai responder às demandas globais, regionais e nacionais. O governo e a oposição têm a responsabilidade de oferecer condições para que o país possa afirmarse como uma das mais pujantes e competitivas economias globais.
Fonte: O Globo, 09/11/2010
Se for continuar a partilhar apenas interesses individuais o PSDB tende a perder relevancia, mas como individualmente são muito fortes se conseguirem unir forças e interesses conseguiram com certeza ser uma bela oposição.
Alem disso os desafios para o novo governo são enormes e mesmo com a maioria Dilma tera uma pressão interna que Lula nunca teve em todo o seu mandato, portanto pode ganhar força a voz de oposição.