Embora nunca tenha votado no Luis Inácio Lula da Silva, encarei com otimismo sua vitória nas eleições presidenciais de 2002. Conforme mencionei em artigo publicado no Jornal do Brasil, (em 28/10/02, e também no “La Tercera”, do Chile, e no “Buenos Aires Económico”): “Votei em José Serra, mas isso não significa que endosso as versões alarmistas sobre as consequências da vitória de Lula”.
Meu otimismo provinha da crença de que o PT reunia um elenco de personagens idealistas e honestos, cuja passagem pelo poder seria uma salutar oportunidade de alternância e contribuiria para a moralização dos costumes politicos brasileiros. Porém, em pouco tempo descobri a dimensão de meu equívoco. Hoje, após tanta degradação dos costumes politicos e administrativos, me pergunto como é possível a sobrevivência do mito Lula, que perdura inclusive internacionalmente.
Jamais na história desse país houve um contraste tão gigantesco entre o comportamento de um partido politico quando se encontrava na oposição e, depois, quando conquistou o poder. O PT oposicionista vangloriava-se de sua pureza moral e ideológica, demonstrando repugnância a qualquer vínculo com outros partidos. Maria Erundina chegou até a ser expulsa do PT pelo fato de haver aceito um ministério no governo “impuro” de Itamar Franco. No entanto, para e ao chegar à presidência, Lula engendrou as mais estapafúrdias alianças partidárias.
Sua pregressa forma sistemática e destrutiva de exercer oposição, levou-o a execrar o Plano Real e torcer para o “quanto pior melhor”. Críticas ferozes ao presidente Fernando Henrique Cardoso repudiavam a totalidade de suas iniciativas. Qualquer ato da administração FHC era identificado como sintoma de corrupção e favorecimento dos ricos. Mas eis que, ao sentar na cadeira presidencial , Lula passou a lamuriar-se como vítima de uma oposição rancorosa e injusta.
A plataforma de governo que propagou nas campanhas eleitorais foi imediatamente renegada quando instalou-se no Palácio do Planalto. Aliás, essa foi sua única atitude acertada, pois se desmontasse a política econômica herdada teria levado o país ao caos. Mas até mesmo esse ato de sabedoria não favorece sua imagem pois: (a) ou ele acreditava no que prometia aos eleitores e, portanto, estava delirantemente despreparado para exercer a presidência; ou (b) ele sabia que falava bobagem durante a campanha e, portanto, mentia ao povo.
Por outro lado, apesar de sua mensagem imbuida de ideais democráticos durante a ditadura, ao alçar à presidência da República seus amigos estrangeiros diletos foram dois dos atuais maiores símbolos mundiais de desprezo pela democracia, Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chaves.
Analisando desapaixonadamente os escândalos ocorridos durante sua presidência (parte dos quais se encontra em julgamento), qualquer pessoa provida de um mínimo de lógica só pode chegar à seguinte conclusão: ou Lula era o chefe da quadrilha e está mentindo, ou ele não sabia de nada e, portanto, foi um um chefe de Estado incompetente. Não existem outras hipóteses alternativas.
Excelente resumo da ópera bufa e trágica que temos vivido.
Análise honesta, lúcida e desapaixonada. É reconfortante ver isso de vez em quando.
Prezado Marcello:
Bela síntese sobre esse camalião. O seu texto retrata o meu pensamento, não sou seguidor de nenhum partido, inclusive já votei em candidata do PT aqui no RJ, por absoluta falta de alternativa melhor. E me arrependi. Mas a manutenção do mito, a meu juízo, se explica pela baixa educação do eleitorado e do assistencialismo.Some-se a isso os seus correligionários donos de currais eleitorais e que, em troca, se locupletam da riqueza do País no exercício de cargos na adminstração pública.
É bom verificar o mapa do resultado das eleições que o PT está igualzinho aos antigos PFL, PDS E ARENA.
Aceite meus cumprimentos.
José Alves