O índice S&P da bolsa americana, que reflete o painel mais amplo de ações negociadas, está próximo de atingir o ponto mais alto desde o pico atingido em 2008, em abril, no auge especulativo que precedeu à queda desse e de outros indicadores de preços de ativos.
Só que, em abril de 2008, já estávamos diante da falência da corretora Bear Stearns, apenas um mês antes.
Também já se sabia do acúmulo de dívidas imobiliárias nos EUA e suas possíveis consequências catastróficas.
Tal não impediu que o xerife Henry Paulson, então secretário do Tesouro, declarasse, em maio, que “o pior já ficara para trás”. O mercado vibrou. Pouco depois, Bernanke, do Fed americano, iria prever uma “leve subida na taxa de desemprego, para 6,5%”.
O desemprego foi a quase 11% no ano seguinte. O FMI fazia eco, prevendo “crescimento razoável” para os EUA e Europa em 2009. Sobreveio a “Grande Recessão”…
Neste 2012, todos os bancos centrais importantes estão engajados em garantir liquidez aos mercados, sobrestando nova onda de quebras de instituições financeiras.
O Fed, o BCE, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, todos anunciaram, ou vêm praticando, políticas bilionárias de socorro em suas jurisdições, uns discretamente, enquanto outros, como o BCE de Mario Draghi, ostensivamente, para passar recado de que não haverá corrida bancária na zona do euro.
A leitura dessas medidas comporta várias interpretações. Como em 2008, uns poucos enxergarão graves problemas à frente.
Mas a maioria teimará que as autoridades estão certas: o pior já passou. É luz verde para os otimistas reforçarem as posições compradas nos mercados especulativos.
E isso vem, de fato, acontecendo nos primeiros 45 dias deste ano, tal qual o movimento altista frenético que ocorrera em 2008.
Claros sinais de fim de festa não impediram a euforia. Foi preciso que o Lehman naufragasse para que o medo se instalasse.
Até hoje, ainda há quem atribua a quebra do Lehman a “um erro do Fed e de Paulson”, como se o estancamento de um tsunami financeiro dependesse de uma rolha a mais, espetada no casco do navio.
O tamanho da dívida grega não se compara à de outros países europeus em dificuldades, como Itália e Espanha.
Mas nem precisa ser assim. A possibilidade de calote aumenta a cada dia sobre o pagamento dos “bonds” gregos vencendo em março.
O potencial de grande estrago nos mercados é devido ao seu caráter altamente especulativo no momento.
Os operadores falam entre si e com seus clientes obsessivamente, repetindo que está tudo bem, até que o poder de repetição convença a todos de que a prudência é pura tolice quando os mercados sobem um dia após outro.
Como em 2008, quando se previa o petróleo alcançar $200 por barril, pouco antes da explosão do Lehman, o barril agora é projetado muito acima dos atuais US$118, mesmo com o consumo mundial estagnado. Serve qualquer argumento para “provar” isso: que o mundo vai ficar sem comida, sem energia, sem bebida, porque os chineses jogarão todos os preços na lua.
Supostamente, também faltará ouro, cuja cotação ameaça chegar aos US$2 mil por onça. Só não ficaremos carentes de crises financeiras. Há uma ampla oferta delas no radar de 2012.
Fonte: Brasil Econômico, 17/02/2012
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