Quem acompanha o noticiário econômico percebeu, há algum tempo, a disparada do preço do dólar. A moeda norte-americana chegou a marca dos R$ 4,25 recentemente. Mas quais foram as causas, quais são as consequências e como evitar este tipo de oscilação? Para entender melhor o cenário, o Millenium conversou com o doutor em Economia pela USP, Roberto Luís Troster. Ele esclarece: nem sempre o aumento na taxa de câmbio quer dizer que a economia vai mal. Entenda no podcast!
De acordo com ele, a origem da crise cambial tem alguns fatores primordiais. O primeiro deles é o temor de que a onda recente de manifestações contra o establishment, que trouxe sérias consequências em países como o Chile, chegasse ao país. “Eles têm índices de concentração de renda e desemprego menores do que o Brasil e, mesmo assim, ocorreram todos esses protestos. A ameaça dessa situação se repetir aqui acabou se refletindo na margem e no câmbio mais alto”.
Outra questão que pesou foi referente à balança comercial. O governo divulgou dados refletindo um déficit de US$ 1,099 bilhão no acumulado de novembro. Depois, corrigiu-os, apontando para superávit de US$ 2,717 bilhões. O erro foi no cálculo das exportações, de acordo com o Ministério da Economia. “Este engano nas estatísticas é comum, mas desta vez, foi maior do que o normal. Isso também fez com que o câmbio disparasse”, disse o economista.
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Roberto Luís Troster aponta ainda declarações do ministro Paulo Guedes que foram mal interpretadas, como a relação entre a taxa de juros e a taxa de câmbio. “É normal em uma economia aberta de qualquer país que, quando há baixa taxa de juros, a taxa de câmbio aumente. Isso é explicação padrão de livro-texto de macroeconomia, mas a fala foi retirada de contexto, assustando os investidores”.
Regras arcaicas contribuem para descontrole
Mas, afinal, por que o câmbio tem tanta oscilação? Na opinião de Troster, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), uma das principais razões reside no fato de o mercado cambial brasileiro ser anacrônico. “A nossa lei cambial tem mais de 80 anos, com centenas de regulamentações e diversos normativos. O mercado à vista é muito travado, burocrático, com limites e prazo. Isso faz com que haja muita volatividade: o câmbio sobe de elevador, rapidamente; e desce de escada, devagar”, explicou o economista. A modernização das regras, proposta pelo governo, é um passo na direção certa, na visão do economista.
Para Roberto Luís Troster, outra mudança deveria ser tomada com relação ao crédito. “O Brasil não pode ser um país que tributa o crédito e subsidia aplicações financeiras, cobrando de quem produz e incentivando quem vive de juros. Isso precisa ser corrigido. A crise de inadimplência precisa ser encarada de frente”, afirmou.
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Caso é pontual
No debate público, muitas pessoas têm relacionado a alta do dólar observada agora com o mesmo fenômeno ocorrido há cerca de quatro anos. No entanto, há muitas diferenças no cenário político e econômico e nas circunstâncias que cercam os dois movimentos. “Naquela época, início do segundo governo Dilma Rousseff, havia uma incerteza política muito grande, se achava que haveria uma desaceleração econômica que de fato houve. O que está acontecendo agora é um problema circunstancial. Há alguns paralelos com a crise anterior, como a questão da inadimplência, que resulta em menos estoques e menos compra. Mas, na época, o crédito estava desacelerando; e, agora, está acelerando, o que é positivo”, disse.