A inflação e o cenário internacional continuam preocupantes e o Banco Central (BC) usará seus instrumentos, incluída a taxa de juros, para domar a alta de preços e conter os efeitos da turbulência financeira externa. Em tradução livre, isso resume alguns dos comentários mais importantes do presidente do BC, Alexandre Tombini, publicados na revista Exame. Resume também declarações do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, ao apresentar um boletim regional em Curitiba na quinta-feira. Essas afirmações contêm pelo menos uma boa notícia: a autoridade monetária reconhece problemas e promete agir para enfrentá-los. Em outras palavras, reafirma a intenção de cumprir seu papel – uma sinalização recebida com sinais de inquietação e até de perplexidade nos mercados. Então o fim da alta de juros pode estar mais longe do que se imaginava? Foi um golpe a mais, num cenário já tumultuado pelos números fracos do varejo no fim do ano, pela preocupação com os custos da energia e pela realização de lucros nas bolsas estrangeiras.
Mas as duas entrevistas cuidaram de questões muito mais importantes que a oscilação de cotações e de juros no curto prazo. Os dois diretores combinaram, em suas declarações, a inevitável dose de otimismo das manifestações oficiais e um respeitável toque de realismo em relação às condições da economia nacional. Foram além da questão dos preços e discutiram também as condições de retomada do crescimento.
A inflação será conduzida à meta de 4,5%, disseram ambos, mas nenhum deles indicou um prazo inferior a dois anos. O recuo da taxa mensal para 0,55% em janeiro foi um progresso, comentou Hamilton, mas ele mesmo chamou a atenção para a melhora de “itens pontuais”, como passagens aéreas, e para o aumento da dispersão, isto é, para a maior porcentagem de componentes em alta. O índice de difusão passou de 69,3% em dezembro para 72,1% em janeiro.
Sem mencionar diretamente esses números, ele admitiu a importância de um detalhe sempre examinado com atenção por analistas econômicos e obviamente relacionado a pressões de demanda. Sem discutir diretamente esse ponto, Hamilton lembrou mais uma vez alguns dos fatores por trás da expansão da demanda, o crédito ao consumidor e a elevação da renda das famílias.
Manteve, no entanto, o tom conciliador ao se referir às contas públicas: o balanço fiscal tende à neutralidade em relação aos preços, disse o diretor do BC, repetindo um mantra – diplomático, segundo alguns analistas – adotado pela instituição desde o ano passado. Não deixou, mesmo assim, de repetir o recado básico: quanto maior a disciplina fiscal, melhor para o combate à inflação.
A referência mais ampla às condições de crescimento surgiu na entrevista de Tombini. “Temos de encontrar novos motores, novas fontes de expansão da economia”, disse ele, dando um passo além de seu território habitual. “Crescimento gerado apenas pela absorção de mão de obra tem um limite”, argumentou, deixando entrever uma percepção crítica da evolução recente da economia.
A saída, acrescentou, é “destravar o investimento e resolver os gargalos da infraestrutura” para ampliar a capacidade de crescer sem pressionar a inflação. Não há propriamente novidade no diagnóstico nem na prescrição, adotados, há algum tempo, pelo menos em parte, pelo governo. A novidade é a disposição do presidente do BC de apontar o vínculo entre inflação e estagnação da oferta.
Seria possível expor a mesma ideia de maneira mais contundente: o aumento da demanda será acompanhado de pressões inflacionárias enquanto a capacidade produtiva continuar travada. Isso seria menos diplomático porque a política econômica, já há alguns anos, se tem voltado muito mais para o estímulo à demanda, especialmente de consumo, do que para o aumento da capacidade produtiva. O fraco desempenho da indústria é um dado indisfarçável. Analistas independentes disseram isso muitas vezes. É animador ouvir o presidente do BC dizer algo muito parecido.
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