Como líder da América do Sul, Brasil deveria aconselhar o presidente a abrir um diálogo com a sociedade venezuelana
A doze dias do primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, a situação é cada vez mais explosiva no país. Acirram-se, de um lado, as demonstrações contra o caos a que o governo Nicolás Maduro conduziu o país. De outro, o governo, encurralado, radicaliza e procura bodes expiatórios, como a denúncia um “golpe de estado” urdido pelos EUA e elementos “fascistas”, sem dar prova alguma da acusação.
O país está num aparente rumo sem volta em direção ao abismo. Um vídeo feito pelo jornal “Ultimas Noticias” registrou agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional disparando na área em que morreram dois dos três manifestantes baleados em Caracas. O fato obrigou Maduro a demitir o comandante do órgão, talvez como resposta às dúvidas sobre se ele de fato controla o aparato militar e paramilitar, este criado pelo chavismo. Chocou a opinião pública venezuelana a notícia da morte ontem de uma ex-miss, de 22 anos que participava de uma marcha de protesto em Valencia, Norte do país, e foi baleada na cabeça. Em janeiro, uma atriz e ex-miss venezuelana foi morta com o marido num assalto, outra mazela do país — a criminalidade.
Os opositores denunciam não só a violação de direitos humanos pelas forças de segurança como a penúria da vida no país, sujeita à escassez de alimentos e outros produtos, à falta de energia, com frequentes apagões, à inflação galopante (56% em 2013) e à insegurança generalizada, com escalada da violência. Esta é a triste herança da má administração chavista, que pôs de pires na mão, sem divisas, um dos países mais ricos do mundo em petróleo. Com o despreparado Maduro, a crise se agravou. Ele aprofunda a divisão e, enfraquecido politicamente, agarra-se à radicalização e cada vez mais restringe as liberdades, entre elas a de imprensa.
A oposição se dividiu: de um lado, o mais moderado Henrique Capriles e, de outro, o prefeito de Caracas, Antonio Ledesma, a deputada opositora María Corina Machado, e o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, dispostos a enfrentar o governo. Este responsabilizou López pelas mortes em Caracas e pediu sua prisão. O político se entregou denunciando “uma Justiça injusta, uma Justiça corrupta”.
Nesse quadro, chama a atenção, negativamente, a posição do Mercosul de total apoio a Maduro, não fosse a nota divulgada pela chancelaria da Venezuela, que ocupa a presidência rotativa do bloco. O Mercosul mais uma vez atropela sua cláusula democrática, como o fez ao suspender o Paraguai para admitir como membro pleno a Venezuela, que a rigor não pode mais ser considerada uma democracia, embora tenha um governo eleito pelo povo.
O papel do Brasil deveria ser exortar Maduro a ser flexível e abrir um diálogo com a sociedade. É absurdo hipotecar solidariedade ao presidente sem levar em conta a situação da Venezuela, à beira de uma explosão político-social.
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