No eco das trapalhadas do “Enem”, algumas considerações sobre a educação no Brasil. Pequena digressão histórica. A ação do colonizador português, no tocante à educação e cultura, foi predatória. As atividades culturais foram impedidas e as escolas reduzidas à expressão mais simples. Em 1822, quando da independência, não havia nenhuma universidade em funcionamento no Brasil, enquanto na América espanhola já existiam 23 (vinte e três) , sendo que a de São Domingos, a mais antiga, foi criada em 1568. Foram 322 anos de total obscurantismo, com reflexos até hoje.
Não tenho a intenção de discutir e mostrar as sucessivas reformas do ensino, que foram implantadas no país desde a independência. O estigma do analfabetismo continuou sempre a nos perseguir, malgrados os esforços dos governos. Por outro lado, a influência jesuítica na nossa cultura, gerou a inusitada procura do título de “doutor”, a ânsia de entrar na Universidade, revelada por todas as classes sociais. Nossas leis com preponderância do “bacharelismo”, concedem toda classe de vantagens aos que possuem o chamado curso superior, as quais vão desde gratificações especiais até prisão especial. Para não falar do falso “status”.
Desejo, nestas breves linhas, comentar o atual 2º (segundo ) grau. Aqui reside nossa maior fraqueza: a inexistência de número adequado de escolas técnicas para preparar o profissional de grau médio. A Alemanha, que tem maravilhoso sistema educativo, presta especial atenção a esta parte do ensino. Na minha especialidade , a engenharia, estes técnicos são a base de toda indústria alemã. São o elo entre o engenheiro diplomado, cuja finalidade é principalmente projetar e, o mestre que dirige as oficinas. São verdadeiros engenheiros que, em curso de três anos, 01(um) pelo menos trabalhando em fábricas, adquirem todo conhecimento prático e teórico para conduzir o trabalho no campo. Tive experiência própria a respeito. Quando o Presidente Juscelino lançou seu grande programa de construção naval, fui convidado para dirigir os trabalhos de construção naval no Estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro, pois tinha me formado em Engenharia Naval na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. O Brasil, à época, não tinha nenhum curso de Engenharia Naval nas suas universidades. Para auxiliar-me fui à Alemanha e contratei dois jovens técnicos em engenharia naval, que vindo trabalhar comigo no estaleiro tornaram-se meu braço direito. Desta experiência tornei-me rigoroso adepto da disseminação de escolas técnicas pelos municípios brasileiros. Seu número deveria ser grandemente aumentado. Facilitar-se-ia o ingresso aos alunos que terminassem o primeiro grau, os quais teriam assim duas opções: ou iriam para uma escola técnica ou caminhariam para o curso superior. Mas, para os que quisessem seguir os cursos superiores, o caminho deveria ser o mais rigoroso possível, afim de que a tentação de ser “doutor” não o seduzisse tão facilmente, como hoje se verifica no Brasil, dada as “vantagens “ indevidas que o titulo propicia, como escrevi anteriormente. A disseminação de escolas técnicas, principalmente pelo interior, seria também elemento importantíssimo para evitar as migrações internas. O preparo de mão de obra técnica nas várias regiões, estimularia a instalação de indústrias, pois estas procurariam sempre as localidades onde pudessem encontrar mão de obra adequada.
Tudo que acabo de escrever sobre educação, de nada vale se não tivermos mestres qualificados, com remuneração à altura de sua profissão, para que possam dedicar-se integralmente à sua tarefa, moldando as gerações futuras, indicando-lhes os rumos e caminhos a percorrer. Termino com Pitágoras: “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”
Sem levar em conta que a experiência do autor é do tempo em que JK ainda respirava, o mundo mudou muito de lá para cá. Não adianta abrir escolas técnicas em cada canto do país. É necessário levar em conta que são necessários postos de trabalho depois. Senão teremos técnicos trabalhando em lojas.
Apesar da falácia de que faltam engenheiros no país, existe um número elevado que acaba fazendo o trabalho de técnicos. Falta qualidade na maioria das escolas técnicas. E sai mais barato.
Também existe um número elevado de engenheiros que acabam trabalhando no setor de vendas (e são contabilizados como engenheiros trabalhando na área), muitos que acabam no setor de finanças e outro tanto que acabam como funcionários públicos no setor fiscal.
O perfil dos “técnicos alemães” citado é mais parecido com o do técnologo aqui no Brasil. Também o ensino na Alemanha (apesar de ser uma federação com normas próprias para cada estado) sofreu diversas modificações, entre elas a implantação do protocolo de Bolonha. O engenheiro é formado em três anos e com um ano adicional já sai com título de mestre.
Por último, mão de obra qualificada não é o único critério para instalação de indústria (óbvio). E se existem trabalhadores capazes sem lugar para exercer o seu ofício, instala-se o processo migratório.
Concordo com o que o Gilvane falou.
Sou ex-aluno de uma federal e simplesmente as vagas para estudante de engenharia são poucas. Se pra fazer estágio é uma dificuldade imagina depois: vai ganhar salário mínimo ou ficar desempregado ou trabalhar como comerciário ou virar funcionário público?
Eu desisti da engenharia e não me arrependo. Em pouco tempo passei em concursos públicos para nível médio que pagam muito mais do que um engenheiro formado vai receber mesmo que trabalhe anos e não preciso mais ficar mendigando estágio em empresas quaisquer. Prestem atenção futuros engenheiros.