Na coluna do dia 1º, tratei da relação entre educação e renda do trabalho. Narrei como, após mais de quatro décadas de pesquisa, construiu-se o entendimento de que a correlação positiva entre renda e escolaridade é causal. Isto é, pessoas que estudam mais aprendem técnicas e desenvolvem habilidades que as tornam mais produtivas, o que resulta em maior renda. Maior escolaridade causa maior remuneração.
Hoje tratarei da questão natural que se segue a essa. Há, do ponto de vista agregado, impacto da educação sobre crescimento econômico?
Evidentemente, a verificação de que educação causa elevação da produtividade das pessoas sugere que a resposta à pergunta acima é positiva. Ou seja, para responder negativamente à afirmação do parágrafo anterior, será necessário haver evidência robusta de que o mecanismo não funciona quando há esforço coletivo de elevar a escolaridade.
A grande dificuldade em testar a proposição é que não temos experimentos naturais com sociedades inteiras. Um experimento natural seria haver num momento inicial diversas economias e um planejador central que escolheria de forma aleatória metade delas para ser o “grupo de tratamento” e a outra metade para ser o “grupo de controle”. Para o grupo de tratamento, o planejador central alteraria a legislação de forma a subsidiar fortemente o investimento em educação. Para o grupo de controle, nada seria feito.
Décadas depois, seria avaliado se o impacto das medidas coletivas de estímulo à acumulação de capital humano resultou em maior crescimento.
Para países, como o leitor pode imaginar, é impossível a construção de experimentos dessa natureza. O que se pode fazer é tentar verificar se há ou não correlação entre crescimento e acumulação de educação e, adicionalmente, estabelecer se há precedência temporal entre o investimento em educação e o crescimento econômico. Apesar de precedência temporal não ser igual a causalidade, é um bom indicador de que ela possa existir.
Em 9 de junho, apontei exemplos de países que fizeram a transição para economias de renda elevada em que houve precedência entre investimento educacional e crescimento. Certamente foi o caso dos EUA, da Coreia do Sul e do Japão. Também mostrei que há correlação entre uma medida de excesso educacional em 1960 e o crescimento econômico nas cinco décadas subsequentes. Isto é, economias que apresentavam em 1960 muita educação para pouco PIB cresceram mais nas décadas subsequentes. Finalmente verifiquei que o efeito sobrevive quando se controla para os diferenciais de investimento entre as economias ao longo das cinco décadas.
A academia passou a olhar com mais cuidado a relação entre educação e desenvolvimento econômico a partir dos anos 1990.
Os primeiros trabalhos não mostraram resultados positivos. Aparentemente não havia correlação entre crescimento econômico e educação.
A grande dificuldade é que a qualidade dos dados de escolaridade é muito ruim. E dados ruins tendem a obscurecer correlações. Adicionalmente, os primeiros estudos macroeconômicos não consideraram a variável educação da mesma forma que a literatura microeconômica, objeto que a coluna de duas semanas passadas tratou. Este último problema foi rapidamente identificado e corrigido. Os resultados melhoraram.
Há duas dificuldades com relação à qualidade da medida de escolaridade de uma sociedade. A primeira é que a maioria das bases de dados existentes considera medida puramente quantitativa –tipicamente os anos médios de escolaridade da população economicamente ativa– em vez de considerar a qualidade da educação. Sabe-se que cinco anos de escolaridade no Brasil representam um ganho de aprendizagem menor dos que os mesmos cinco anos na Finlândia, por exemplo.
A segunda dificuldade é que mesmo as bases de dados puramente quantitativas apresentam erros de medida. Ainda não temos censos demográficos disponíveis para inúmeros países, e há lacunas em muitas décadas.
De qualquer forma, trabalhos posteriores, que construíram bases de dados de melhor qualidade, obtiveram efeitos bem mais fortes da educação sobre o crescimento.
Na próxima coluna abordarei o que sabemos sobre o impacto da qualidade da educação e o crescimento econômico.
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