É inesquecível aquela tarde em que vários senadores de diversos partidos, chefiados por Renan Calheiros, ameaçaram mudar o Código Penal, “em dois minutos, com maioria absoluta”, para se protegerem de uma decisão desfavorável do Supremo no “caso Aécio Neves”. Não era bravata, eles falavam sério e grosso. Não teriam o menor pudor ou constrangimento em mudar qualquer lei para escapar da Justiça. Mas nem foi preciso, o Supremo piscou primeiro.
O lado bom deste Congresso é que eles estão indo embora. E o ruim é que eles não querem largar o osso. Para um terço deles, manter o foro privilegiado é questão de vida ou morte, a reeleição é fundamental para tentar evitar, ou protelar ao máximo, a cadeia.
Eles são muitos, andam em bandos, se alimentam de verbas públicas e estão dispostos a tudo. Mas tão desmoralizados e rejeitados que até inspiravam alguma esperança de renovação. Mas com Barbalho no Pará, Calheiros em Alagoas, Sarney no Maranhão, Jucá em Roraima e Cardoso Jr. em Minas bem nas pesquisas? Os herdeiros da velha política já estão na segunda e terceira geração no poder. Basta percorrer os sobrenomes da Câmara para encontrar as famílias e clãs que ocupam metade das cadeiras. E das cadeias, alguns deles.
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Lembrando Dante Alighieri nas portas do inferno, vós que aqui votais abandonai toda a esperança. As previsões são de reeleição em massa dos mesmos de sempre, que só vão mudando de nome e de partido. Eles têm dinheiro, limpo ou sujo, e as máquinas estaduais e municipais. Velhos caciques em novas alianças. Sem o financiamento privado, os chefões dos partidos repartem a seu prazer o bolo bilionário do fundo eleitoral. Mas chamá-lo de “fundo para a democracia” é tão ridículo como a corridinha de Rocha Loures com a mala de dinheiro.
O sinistro axioma de Ulysses Guimarães (“o próximo Congresso é sempre pior do que o anterior”) vem sendo provado a cada eleição. Mas quem pode imaginar algo pior do que o atual? Só o atual por mais quatro anos.
A consequência nefasta é que, seja quem for o presidente, é com essa gente que ele vai ter que negociar para governar. Orai por ele. E por nós.
Fonte: “O Globo”, 18/05/2018