Em um período de mudanças climáticas e com restrições a emissões cada vez maiores, é importante focarmos nosso desenvolvimento na direção de uma economia de baixo carbono. Neste sentido, é essencial valorizar as fontes alternativas de geração de energia elétrica que não adicionam emissões, explorá-las de forma crescente e em harmonia com a construção de hidrelétricas com reservatórios para equilibrar a sazonalidade e as oscilações destas fontes alternativas. Tudo isso, com responsabilidade e com critérios técnicos e sem nos deixarmos levar por modismos ou por ações “politicamente corretas”.
Esta harmonia é necessária porque as energias das fontes biomassa e eólica, apesar de complementares às hidrelétricas não atenderiam a “ponta” do consumo. Por isso, a importância das térmicas a gás natural para firmar as hidroelétricas a fio d’água na Amazônia.
Sabemos que o potencial do Brasil em energia eólica é estimado, hoje, em cerca de 300 a 400 GW, que são empreendimentos de rápida implantação e não tem impacto social de grande monta. Um dos benefícios da inserção da geração de energia eólica no parque gerador brasileiro decorre do fato de esta complementar a geração hidroelétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN). Por exemplo, entre os meses de junho a setembro, quando a vazão no rio São Francisco diminui, ocorre maior incidência de ventos no vale deste rio. Logo, esta complementariedade poderá contribuir para o aumento da segurança do abastecimento energético, principalmente na região nordeste.
A energia da cana de açúcar, além do etanol, pode nos propiciar nos próximos anos 12 GW somente com as atuais usinas, através do bagaço de cana. Ou seja, uma nova Itaipu. No caso da biomassa de cana a tecnologia já está dominada e seu contínuo desenvolvimento já se dá de forma natural. No caso das eólicas há uma tendência de ampliação de sua competitividade na medida em que a indústria se desenvolva, tornando o Brasil uma plataforma de produção com domínio tecnológico dos aerogeradores e componentes.
O fato novo e que chamou à atenção no último leilão de energia foi o desempenho da energia eólica. A complementaridade com as hidroelétricas é biunívoca, quer seja eólica no Nordeste quer seja biomassa no Sudeste. Necessita-se, com urgência, definir a energia assegurada destas fontes por certificadora independente. Essa definição é fundamental na medida em que teremos os preços dessas energias próximos à realidade de cada uma delas e, ao mesmo tempo, impediremos que produtores, no afã de ganhar os leilões, forneçam fatores de carga que nunca serão alcançados. A atual assimetria da regulamentação da transmissão está fazendo com que as vantagens destas fontes sejam transferidas ao preço de produção.
Publicado no blog de Adriano Pires no site do jornal “O Globo”
No Comment! Be the first one.