A maior ofensa aos deuses na Antiga Grécia eram as aspirações sem limite dos humanos. Os gregos antigos atribuíam a perdição dos homens e a queda dos impérios ao castigo dos deuses às nossas desmedidas pretensões. A essa falta de moderação que nos condena aos excessos, a esse ímpeto que nos leva a desafiar os deuses pela ousadia de tentar feitos sobre-humanos, os gregos designavam por “húbris”.
Pois bem, as principais crises contemporâneas registram o eterno retorno desse tema humano, demasiadamente humano, da falta de moderação e da condenação aos excessos. Foram devastadores os excessos cometidos por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental. Foram irresponsáveis também os abusos cometidos pela social-democracia europeia contra a viabilidade financeira de sistemas públicos de saúde, educação e aposentadorias, redes de solidariedade que sustentam a civilização contemporânea.
Os excessos dos financistas e dos políticos quebraram seus bancos e seus governos. Enquanto os economistas celebraram as últimas décadas como o período da Grande Moderação, futuros historiadores examinando retrospectivamente nossa época dirão que essa foi uma Era dos Excessos, caracterizada exatamente pela enorme falta de moderação.
Perdiam o juízo políticos, financistas, famílias e governos, embriagando-se todos com o endividamento excessivo. Faltou moderação nos financiamentos imobiliários, na alavancagem do sistema financeiro, nas promessas de benefícios e aposentadorias futuras e nas doses cada vez maiores de liquidez injetadas por bancos centrais nas veias bancárias, muito antes do colapso de 2008-2009. A percepção do risco de cada instituição financeira era anestesiada enquanto subia exponencialmente o risco sistêmico, fenômeno clássico de moral hazard — estímulo ao risco excessivo pela falta de moderação das próprias autoridades monetárias.
O noticiário brasileiro registra também mais um episódio de perdição dos homens por ambição excessiva. O PT é um partido com extraordinárias contribuições à democracia brasileira. Destacou-se na defesa da transparência e da
democratização dos orçamentos públicos. Mas, inebriados pelo poder, perderam-se alguns em desmedidas pretensões. Ofenderam aos deuses do Supremo, e por eles serão punidos.
Fonte: O Globo, 15/10/2012
faltou mencionar o lado positivo das ambições humanas nas Ciências , na Tecnologia, nas Artes, e que, sem elas não teríamos a possibilidade de chegar onde chegamos com a consequente melhoria de n/qualidade de vida.
O Sr Paulo Guedes fez o seguinte comentário: “O PT é um partido com extraordinárias contribuições à democracia brasileira…” Discordo completamente!!! Acho que o PT contribui quase nada para a democracia brasileira e atualmente tem feito justamente o contrário! Ora,e quanto ao ano de 1988 em que o PT se negou a participar da sessão de homologação da Carta? A nossa democracia estaria sim em risco, caso seguíssemos a orientação do PT naquele período. 2012… E quanto ao presidente do PT, Rui Falcão? Este senhor já avisou que está planejando um “ataque” ao STF e ainda disse que o julgamento do mensalão no Supremo é a reação de uma elite suja e reacionária.Isso é democracia? Mais:”…perderam-se alguns em desmedidas pretensões.Ofenderam aos deuses do Supremo, e por eles serão punidos.” Na verdade,muitos se perderam! Para muitos, Lula é o único Deus! Outra:Os punidos ofenderam foi a Constituição e a República! Não há deuses no STF, há defensores da Constituição e da Democracia!!!
Robert Kurz, importante teórico marxista, já demonstrou a falácia e o anti-semitismo presente nas análises que visam dividir o capitalismo em industrialismo x financismo, como se esses não fossem campo intimamente imbricados e articulados.
Criticar o financismo, coisa que parte da esquerda anti-semita também faz, sem vincular as estruturas sociais e de classe existente é uma forma a mais de anti-semitismo, na medida em que se buscam culpados para o colapso social em um segmento social, sem questionar a barbárie do industrialismo desefreado (lixo atomico, dejetos, desastes, trabalho escravo pós-moderno, desemprego estrutural, urbanização desenfreada etc) e a interelação entre as esferas sociais da produção e do financiamento a produçao.
Paulo Guedes nos conta uma estorinha grega para demonstrar como as mazelas e irreponsabilidades de Estados,políticos,financistas e empresários de todo gênero desenharam um novo cenário político-econômico-social global,neste início de século.Já é farta a literatura sobre esse assunto. Lamentavelmente soa como algo requentado.
No último parágrafo, em gran finale para chegar ao objetivo dissimulado,aborda com parcimonialidade e velada prudência a paupérima participação da grande imprensa nos vergonhosos e criminosos escândalos políticos da era Lula e do PT no poder – com raríssimas exceções de jornalistas e personalidades em seu meio de atuação – e mereceria ser excluído do texto.
Paulo Guedes consegue superar-se, mais uma vez, ao imputar escancaradamente uma suposta e positiva linha de conduta do PT de respeito à democracia. A quem quer enganar o economista? As contumazes tentativas do PT em descontruir a democracia brasileira já são fatos históricos, e sem opção ‘delete’.Pobre PG!