Thomas Edison, em 1913, vaticinou: “Livros logo serão obsoletos. Já é possível ensinar qualquer ramo do conhecimento humano por intermédio de filmes. Em dez anos a educação escolar estará completamente modificada”.
A educação, de fato, mudou. O que se vê, entrementes, é que o tempo se encarrega de dissipar expectativas exageradas a respeito do impacto de procedimentos ou ferramentas didáticas inovadoras na redução dos custos cognitivos da aprendizagem.
Não obstante, candidatos a passaporte para viagem sem escalas ao Éden pedagógico aparecem e reaparecem. Por exemplo, o uso de computadores e a introdução de novas tecnologias da informação e comunicação no ambiente escolar.
Nas salas de aula, longe dos gabinetes, a prática docente separa joio de trigo. Fora delas, mas se debruçando sobre o que nelas ocorrem, cientistas dão sua contribuição à descoberta do que faz efeito no aprendizado. Mas quando falta colaboração genuína entre salas de aula e laboratórios a magia verbal da publicidade se transforma em princípio pedagógico. E guia escolha de políticas educativas.
O programa Um Computador por Aluno (UCA), do governo federal, e programas do tipo Eucopedia, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, são exemplos disso. Foram implantados na ausência de evidências seguras do impacto positivo no desempenho escolar.
Em 2004, estudiosos do CESifo (rede européia de órgãos de pesquisa da Universidade de Munique) analisaram dados do PISA para estimar o impacto do uso de computadores na proficiência dos alunos. Em 2007, pesquisadores da Unicamp fizeram o mesmo com dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Em 2009, resultados de investigação do tipo randomized controlled trial, comparando o desempenho em leitura e matemática de alunos que usaram e que não usaram softwares de apoio ao aprendizado, foram apresentados ao Congresso dos EUA. Em 2010, o Departamento de Educação americano divulgou relatório sobre uma revisão de literatura que incluiu metanálise de 50 estudos comparando aprendizagem online com aprendizagem face to face.
Nenhum desses estudos provê evidência conclusiva de impacto positivo do uso de computadores e tecnologias da informação e comunicação no desempenho escolar em geral. E aos trabalhos citados pelo MEC e pela SME/RJ faltam características metodológicas para suportar apoio ao UCA e Educopedia.
Decisões tomadas nesses termos estão na origem do desastre apontado no SAEB, PISA e INAF sobre o desempenho em leitura e matemática nas últimas décadas.
Qual será o limite de tolerância ao fracasso para que a sociedade brasileira acorde e descubra que no lugar de iniciativas de apelo publicitário o Brasil precisa de ações baseadas em evidências, se quiser recuperar a capacidade do sistema educacional para ensinar a “ler, escrever e contar”, alicerce de qualquer progresso intelectual?
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