*Natalia Sato
Muito se fala sobre liberdade, mas poucos entendem o que ela realmente exige. Ser livre não é fazer só o que se quer. Isso é impulso, é imaturidade.
A verdadeira liberdade exige mais do que seguir vontades — exige preparo emocional, responsabilidade e coragem para sustentar escolhas difíceis. Como bem destaca Isaiah Berlin, a verdadeira liberdade não está apenas na ausência de coerção, mas na capacidade de o indivíduo determinar seu próprio destino. Mas, para que isso aconteça, a liberdade precisa ser responsabilizada.
Em uma sociedade liberal, a liberdade individual é o alicerce. E esse princípio não é algo dado — ele precisa ser construído e sustentado pelo próprio indivíduo. Friedrich Hayek enfatiza que, em uma sociedade realmente livre, as pessoas devem ser capazes de fazer escolhas de maneira autônoma, mas também arcar com as consequências dessas escolhas. Nesse sentido, a liberdade não é uma dádiva, mas uma responsabilidade pessoal e coletiva.
Todos nós possuímos talentos únicos, e a verdadeira liberdade está em reconhecê-los e desenvolvê-los. Milton Friedman, em suas reflexões sobre o mercado livre, destaca que a especialização e o aprimoramento das nossas habilidades são essenciais para a prosperidade individual e social. Em um ambiente livre, a capacidade de buscar a excelência em áreas específicas não é apenas encorajada, mas é a chave para o crescimento e inovação de toda a sociedade.
Ou seja, quanto mais liberdade existe em uma sociedade, maior é a exigência sobre aqueles que fazem parte dela. Liberdade não combina com passividade — ela exige preparo, consciência e maturidade. Em contextos verdadeiramente livres, o indivíduo precisa desenvolver inteligência emocional, discernimento e responsabilidade para lidar com as escolhas que a vida apresenta. Uma sociedade livre é, portanto, um convite contínuo ao autoconhecimento, ao aprimoramento pessoal e à capacidade de agir com integridade, mesmo quando ninguém está olhando.
Mas, sem autoconhecimento, a pessoa não é livre — ela é moldável.
Ela se deixa levar por ondas coletivas, veste trajes ideológicos como verdades absolutas, e se agarra a grupos como forma de preencher o vazio de não saber quem é. E aí, sem perceber, terceiriza sua identidade, suas escolhas, seu futuro. Como aponta John Stuart Mill, a liberdade de uma pessoa deve ser limitada apenas pela capacidade de garantir a liberdade do outro. Mas, quando não sabemos o que queremos, abrimos espaço para que outros definam por nós o que é certo, o que é moral e até o que é desejável.
Liberdade sem consciência se torna apenas um discurso bonito. Liberdade sem responsabilidade vira infantilização. E infantilização abre espaço para o controle, para a manipulação e para a dependência — inclusive a dependência de uma narrativa que nos isenta de responsabilidade.
Diferente do que muitos imaginam, em uma verdadeira sociedade liberal, a liberdade não significa ausência de estrutura — significa a mínima intervenção externa para que o indivíduo possa se desenvolver de forma íntegra, responsável e autônoma. Como defendeu Bastiat, quanto mais livre o cidadão, menos precisa do Estado. E quanto mais consciente de si, menos se perde nas massas.
A transformação real começa bottom-up — de dentro pra fora. Começa quando cada indivíduo entende que liberdade não é seguir seus impulsos, mas sustentar suas escolhas. Que não é gritar por direitos enquanto se recusa a olhar para os próprios deveres.
Como apontaram Hayek e Rand, liberdade exige ação, exige consistência e exige que cada um arque com o próprio caminho.
E, ao escolher seguir esse caminho é necessário ação, reflexão e compromisso. Ao abraçar essa visão, estamos não apenas nos tornando mais livres como indivíduos, mas também ajudando a construir uma sociedade que valoriza a autonomia, a integridade e a verdadeira transformação.
Esse é o poder que vem da verdadeira liberdade — e é assim que uma sociedade liberal deve ser construída: do indivíduo para o coletivo.
Natalia Kimie Martins Sato é psicóloga, pós-graduanda em Neurociências, e atua com foco em autoconhecimento, bem-estar emocional e qualidade de vida. Seu trabalho parte da premissa de que o desenvolvimento humano ocorre de forma mais plena quando o indivíduo assume responsabilidade por si mesmo, cultivando autonomia, autorregulação e consciência crítica.