Deborah Palma*
O futuro pertence àqueles que têm coragem de questionar o presente. É fato que os defensores do ESG asseguram que haverá transformações necessárias para o mundo. No entanto, a realidade mostra que eles falham sistematicamente em honrar metas sociais, ambientais e financeiras, justamente por desprezar as leis naturais da economia e ignorar as consequências reais de suas decisões.
Embora a diminuição de desperdícios, poluição e discriminação seja um objetivo legítimo, é inegável que esses problemas são solucionados de maneira mais eficiente pela liberdade de mercado, pela responsabilidade individual e pela inovação descentralizada, e não pela imposição de cartilhas globais sustentáveis ou pela intervenção estatal, promovida sob o guarda-chuva do ESG.
O movimento ESG, na verdade, é uma colcha de retalhos formada a partir de práticas antigas como a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), o Investimento de Impacto e a Sustentabilidade. Incorporando diferentes vertentes, ele une causas como o desenvolvimento de países pobres, a preservação ambiental e a teoria do capitalismo das partes interessadas (stakeholder capitalism), que desloca o foco da geração de valor para a tentativa de agradar a uma miríade de grupos de pressão. Seu objetivo, em última análise, é concentrar poder na alocação de capital, sufocando a experimentação, a inovação espontânea e a liberdade que caracterizam economias dinâmicas.
Historicamente, o crescimento econômico foi um processo desorganizado e orgânico, no qual cada país moldava suas políticas de acordo com sua realidade interna. Mesmo com a expansão do comércio global no século XIX, o desenvolvimento permaneceu enraizado nas particularidades locais. Contudo, no século XX, o avanço das burocracias internacionais, como o Banco Mundial, o FMI e a ONU, marcou uma guinada: passou-se a adotar a ideia utópica de que elites globais poderiam “planejar” o progresso das nações mais pobres, desconsiderando as bases espontâneas que sustentam a prosperidade.
Kimberlee Josephson, do AIER (American Institute for Economic Research), destaca que na década de 1970, a ONU criou o Programa Integrado de Commodities, mas esbarrou nas próprias contradições filosóficas e legais da intervenção planejada. Essa tendência continuou com a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, que, ao colocar o “direito” ao desenvolvimento nas mãos de burocracias internacionais, pavimentou o caminho para novos mecanismos de controle político e econômico.
Já na década de 1950, o antigo economista americano e presidente de universidades como a Grinnell College e Lowa, Howard Bowen lançou o conceito de Responsabilidade Social Corporativa, reforçando a ideia de que as empresas deveriam se preocupar não apenas com seus resultados, mas com os interesses de suas comunidades. Essa noção foi reformulada por Edward Freeman (filósofo e professor da Universidade da Virgínia), nos anos 1980, com a teoria das partes interessadas, um conceito que, sob o verniz da ética empresarial, abriu as portas para que ativistas sociais, políticos e ambientais coagissem as empresas a agir em defesa de bens e causas que não lhes pertencem.
Ao transformar questões ambientais e sociais em obrigações corporativas, o movimento ESG reconfigurou a natureza da atuação empresarial. De uma ferramenta voluntária de responsabilidade, passou a se tornar uma engrenagem coercitiva, usada para moldar comportamentos de empresas e investidores, inclusive à revelia de seus interesses legítimos. A ONU e suas ramificações, como a iniciativa Princípios para Investimento Responsável (2005), institucionalizaram essa nova ordem promovendo o ESG em universidades, fundações, ONGs e entidades regulatórias mundo afora.
Hoje, o ESG se converteu em um instrumento de reengenharia social e econômica, porque, desta vez, as elites financeiras e políticas globais estão atuando em bloco, acelerando sua aceitação em mercados, governos e sociedades inteiras.
Essa engenharia pode ser vista de forma clara nos Estados Unidos. O ex-presidente Joe Biden assinou ordens executivas (13985 e 14030) impondo diretrizes de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) em agências federais e reguladores financeiros. A ordem sobre riscos climáticos, por exemplo, exige que agências analisem impactos ambientais mesmo que isso distorça investimentos e imponha custos desproporcionais à sociedade. As prioridades ESG foram incorporadas em projetos de trilhões de dólares como o Plano de Resgate Americano, o Projeto de Infraestrutura e a Lei de Redução da Inflação, entre outros. A SEC, principal reguladora do mercado financeiro, também intensificou seu esforço para integrar a lógica ESG nas regulamentações, inclusive criando uma Força-Tarefa Climática e ESG.
O que está em curso é uma clara substituição da lógica de mercado pela lógica política. Não se trata apenas de “boas práticas de gestão”: trata-se da imposição de uma nova ordem moral e econômica baseada em preferências ideológicas específicas, enquanto as consequências negativas — como a redução da produtividade, o encarecimento de produtos e o sufocamento da inovação são ignoradas.
Como advertiu Friedrich Hayek, os planejadores centrais sempre se consideram moralmente superiores à ordem espontânea do mercado. Eles acreditam ser capazes de desenhar o progresso, ignorando que a prosperidade nasce da liberdade, da concorrência e da experimentação aberta.
O ESG, no fundo, acaba por substituir as escolhas livres dos indivíduos pelas decisões de burocratas. Precisamos ter cuidado para não sacrificarmos a eficiência, a liberdade e a criatividade, os pilares que tornaram as sociedades verdadeiramente prósperas.
Defender o livre mercado hoje é resistir à imposição de padrões homogêneos que ignoram as realidades locais, desrespeitam a soberania individual e minam as bases da liberdade econômica. O futuro, como sempre, pertence àqueles que têm a coragem de questionar.
Deborah Palma é mentora financeira, autora do ebook Riqueza 31 e tem artigos publicados no Instituto Liberal, Instituto Millenium, Boletim da Liberdade e IFL Brasil. É associada do Instituto Atenas e SFL (Student For Liberty), ministrou palestras sobre educação financeira e integra a sociedade de torneios de debates da Universidade do Intercâmbio.