A forte retração na economia por conta da pandemia do coronavírus vai resultar em uma queda no consumo de energia, principalmente por conta da diminuição da atividade industrial e do comércio. Em função desse cenário, e das incertezas quanto aos rumos da economia do país e mundial, especialistas recomendam que o governo suspenda os dois leilões de energia — A-4 e A-6 — previstos para o dia 30 de abril.
Alexandre Americano, sócio da consultoria de negócios do setor Mercúrio Partners, destacou que neste momento de incertezas sobre como a epidemia será controlada e o comportamento da economia, será difícil para os interessados apresentarem propostas. Pela primeira vez, os leilões serão de energia já existente, com o objetivo de substituir as termelétricas a óleo que operam no Nordeste por termelétricas a gás natural ou carvão.
— Estimamos que todos os leilões deverão ser postergados por não haver ambiente para para tomada de decisões pelos investidores, pelo menos nos próximos quatro a cinco meses — recomendou Americano. — A preparação de uma oferta envolve muitas operações, como acordos com bancos, que são difíceis de serem acertados a distância.
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A redução do consumo de energia, segundo o executivo da Mercúrio, terá o lado positivo de evitar que as tarifas subam, pois deverá ser mantida a bandeira verde. Segundo ele, o Ministério de Minas e Energia pode aproveitar o momento de retração na demanda e de adiamento de projetos para avaliar e solucionar vários gargalos do setor, como o risco hidrológico, muito questionado pelas geradoras de energia.
Por sua vez, o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, avalia que no curto prazo as distribuidoras de energia deverão ser as mais afetadas, por causa da queda no consumo. Mas no médio e longo prazo os projetos de geração termelétrica, solar centralizada (usinas de grande porte) e eólica também sofrerão por conta da queda da demanda.
— O impacto mais imediato é sobre as distribuidoras, porque com a queda no consumo elas perderão mercado – explicou Nivalde de Castro, coordenador do Gesel.
E com a redução no consumo, os leilões futuros de energia que estavam previstos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) deverão ser reduzidos. De acordo com análise feita pelo Gesel, as perspectivas de consumo são negativas para os segmentos da indústria e do comércio, mas de aumento no residencial por causa do isolamento das famílias.
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— No médio e longo prazo as cadeias produtivas dos setores de termelétricas a gás e eólicas serão afetadas porque terão menos encomendas — ressaltou Castro. — Nesta perspectiva, emerge uma questão sensível: a crise cria incertezas de curto prazo, mas que afetam decisões com repercussões de longo prazo.
Já o segmento de transmissão deverá ser menos afetado no curto e médio prazo. Os leilões para expansão da rede já estão agendados até 2022 e não devem sofrer interrupções, pois estão vinculados a novos projetos de geração já contratados. Para as geradoras, estão em melhor situação aquelas com contratos firmados no mercado cativo, já que o mercado livre deverá sofrer os efeitos da crise.
Fonte: “O Globo”