Um grupo de estudantes de arquitetura de universidades públicas brasileiras concorre a um prêmio concedido pela revista britânica “Eleven Magazine”, com um projeto para atender a demandas da população do Camboja que são bem familiares a parte dos brasileiros, especialmente na região Norte do país.
O trabalho foi produzido como projeto final de intercâmbio de três estudantes, pelo Programa Ciência sem Fronteiras, na Universidade de Liverpool, na Inglaterra, e prevê a construção de módulos flutuantes e navegáveis para levar saúde, educação e pesquisa a comunidades que habitam o Tonle Sap, um lago no Camboja.
Com mais de 2 mil quilômetros quadrados de extensão, o lago multiplica seu tamanho durante o período das monções, fortes chuvas que atingem o Sudeste da Ásia, o que desafia a construção de prédios em seu entorno e incentiva a adoção de estruturas capazes de boiar.
Da Universidade Federal de Viçosa, o estudante Humberto Amorim conta que o grupo se inspirou nas embarcações militares que atendem à população na Amazônia. Ele acredita que o trabalho poderia ser aproveitado no Brasil.
– A gente gostou do tema porque é um lugar tropical, um lago grande e uma população carente. Poderia ser adaptado para regiões com rios enormes no Brasil. Os materiais teriam que ser diferentes, mas não haveria problema em substituir – conta ele, satisfeito pelo trabalho ter dado uma resposta “plausível e realista” a problemas sociais.
O projeto que concorre ao prêmio tem uma praça central flutuante, onde são acopladas plataformas com sala de aula, posto médico e centro de pesquisa, além de acomodações para os trabalhadores. De acordo com a necessidade, pode haver mais módulos de cada tipo, que podem ser retirados e rebocados por barcos para que a prestação de serviço chegue a outras populações.
– O lago é muito grande e as comunidades são dispersas, então, essa plataforma poderia ficar alguns meses perto de uma comunidade e depois se movimentar – explica a estudante Raisa Barros, da Universidade Federal Fluminense.
Uma das principais preocupações do projeto foi envolver a comunidade e manter o custo de execução baixo. Por isso, o bambu e outros tipos de madeira abundantes na região foram os escolhidos mais usados.
– São materiais que eles usam. Poderíamos usar a própria mão de obra local para fazer as unidades – diz Raisa.
Humberto Amorim acredita que o projeto será bem avaliado pelos jurados e chama a atenção para o fato de que muitos concorrentes, por desconhecimento, não se atentarem a características peculiares a regiões tropicais:
– Boa parte de projetos de pessoas que moram na Europa têm muitas estruturas transparentes, porque eles acham que o sol é bom e sustentável. Aqui no Brasil, a gente sabe que uma estrutura com teto transparente vira uma estufa.
Além de Raisa e Humberto também participou do projeto a estudante Ana Sofia Gonçalves. O grupo, orientado pelo chefe da Escola de Arquitetura da Universidade de Liverpool, professor Andrew Crompton, acredita que, com a experiência, ganha pontos para o currículo.
– O professor era extremamente bem qualificado e ajudou muito. A gente conseguiu aprender mais sobre o jargão técnico em inglês. Com isso, temos mais possibilidades de trabalhar com algum escritório estrangeiro – conta Humberto.
Raisa destaca a experiência com um projeto de baixo custo:
– Foi um projeto em que aprendi bastante. Tive que trabalhar com a sustentabilidade e o baixo custo. Hoje em dia, você tem que cada vez diminuir mais [os custos]. E você pode fazer algo bom, de qualidade e baixo custo. O que poderia ser uma restrição acaba sendo algo que só traz benefícios.
O projeto está concorrendo em votação popular pela internet até o dia 1° de novembro. O resultado será divulgado no dia 11 do mesmo mês.
Fonte: Extra.
No Comment! Be the first one.