Mobilidade? Não tenho liberdade para andar de Uber, porque os taxistas e seus vereadores de bolso não me permitem.
Também não tenho liberdade para andar de táxi, que me presta um péssimo serviço (é uma luta fazer o motorista ligar o ar e o Waze) e, nos horários em que mais preciso, não pode trafegar nos corredores de ônibus.
Não sou livre para andar de ônibus, porque no ponto tomo chuva, sol, sou roubado e, no veículo, sou cozido pelo calor.
Não posso andar de carro para tomar menos chuva, menos sol e sentir menos calor porque o “correto” é andar de bicicleta.
Aos 35ºC e com roupa de trabalho também não sou livre para usar a bike, porque quase todas as ciclovias estão na subida e preciso descer para empurrá-la.
Quando a estou empurrando penso em andar a pé, mas percebo que também não posso, porque onde eu andava agora passam as bicicletas.
[su_quote]E nem mesmo o dinheiro que eu receber se vender terei liberdade de movimentar, porque a CPMF vem aí[/su_quote]
Assim, sou como um imóvel, o qual também perdeu mobilidade na medida em que, para fechar as contas do governo (e não as minhas), terei de deixar para o fisco até quase um terço de eventual ganho que eu tenha na venda.
E nem mesmo o dinheiro que eu receber se vender terei liberdade de movimentar, porque a CPMF vem aí, e não vem sozinha…
Penso então em tirar férias, mas também não posso porque, para fora, o dólar me impede e, para dentro, quem me prende a inflação. Posso tentar dividir meu período de descanso para tirar parte dos dias em outro momento, quando a situação estiver melhor, mas também não sou livre para fracionar minhas férias por conta de uma tal CLT e uma Justiça do Trabalho.
Talvez eu tenha que me trancar em casa, mas vejo não ser possível, porque não posso ligar meu ventilador em função do preço da energia, aumentado por medidas ideológicas que até agora não entendi, e não posso me refrescar na água, porque uma empresa estatal, que opera o sistema há décadas sem licitação nem competência, destruiu nossos mananciais.
Vem a ideia de dar uma volta no centro ou na Paulista, mas não me permitem porque os espaços públicos estão ocupados por moradias cuja permanência é defendida por aqueles que bradam o direito das pessoas de ir, vir e ficar, mesmo que sob condições desumanas.
Imagino escrever este texto e, rapidamente, noto que não tenho essa liberdade, porque vão me acusar de “ista”, “ismo” e/ou “or”.
Não posso usar Uber, táxi, ônibus, carro, bicicleta. Não sou livre para mobilizar meu imóvel, para movimentar meu dinheiro, para viajar ao exterior ou para circular aqui mesmo no Brasil. Não tenho liberdade para negociar minhas férias, nem para ficar em casa, nem para passear pela cidade e, por fim, nem para dizer o que estou dizendo.
Eu só queria um pouco menos de Estado, de empresas públicas, de assistencialismo populista, de leis, de corrupção, de ideologias, enfim, do que não me deixa livre para me autodeterminar.
Quem sou eu? Você.
Fonte: Linkedin, 25/9/2015
Que mimimi